QUE MEMÓRIA O MUNDO TERÁ DE NÓS?
- desaovicente
- Apr 3
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Updated: Apr 6
E, estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso,
Aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, com unguento de grande valor, e derramou-lho sobre a cabeça, quando ele estava assentado à mesa.
E os seus discípulos, vendo isto, indignaram-se, dizendo: Por que é este desperdício?
Pois este unguento podia vender-se por grande preço, e dar-se o dinheiro aos pobres.
Jesus, porém, conhecendo isto, disse-lhes: Por que afligis esta mulher? Pois praticou uma boa ação para comigo.
Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre.
Ora, derramando ela este unguento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento.
Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua.
Há uma lição valiosa nesta passagem, que normalmente é desconsiderada pelo leitor, e à qual convém atentar com a devida importância que ela contém na passagem.
Esta "mulher" referida aqui é "Maria" a irmã de Marta e de Lázaro conforme a passagem paralela de (João 12:1-8) e a referência de (João 11:2) assim o confirmam.
Nós sabemos pela escritura que Jesus amava esta família (João 11:5), e claramente era amado de volta por eles.
O amor de Maria por Jesus é evidenciado aqui, como resultado do amor que Jesus produz no coração daqueles que ama; "Esse amor derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Romanos 5:5); João acerca disto diz: "Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro." (1 João 4:19);
É impossível que alguém que tenha conhecido o amor de Deus não viva em amor, e ame e valorize a Jesus como o seu maior tesouro; Paulo diz que "nada nos pode separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 8:38-39); E diz ainda, que "o amor é o vínculo da perfeição" (Colossenses 3:14).
Há um célebre ditado que diz que "quem não ama demasiado, não ama o suficiente", e a pergunta lógica a fazer é: - Se realmente é assim que amamos a Jesus, ao ponto de sacrificar aquilo que temos de mais precioso - Nossas vidas, tempo, dinheiro e prioridades? -Será que aquilo que decidimos regularmente fazer em nossas vidas é garantir que "em tudo Jesus tenha a preeminência?" (Colossenses 1:18)
Maria, no episódio com Marta sua irmã ocupada com os afazeres da vida, diz a escritura "escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada" (Lucas 10:42); Marta como muitos cristãos nos dias actuais, amam a Jesus, mas rapidamente perdem a noção do que é realmente prioritário, escolhendo muitas vezes colocar o mundo em primeiro lugar (Lucas 10:41).
Quando Jesus se coloca diante de nós para ser ouvido, servido, e adorado, é aos Seus pés que devemos prontamente nos colocar, e Maria nos dá um belo exemplo em (Lucas 10:39).
A boa parte que Marta "perdeu" naquele momento é a parte que muitos cristãos passam a perder durante grande parte das suas vidas, colocando Jesus sempre em segundo plano.
Em (Lucas 10:40-41) vemos 3 adjectivos usados por Jesus para descrever Marta e sua postura diante Dele: -"Distraída; Ansiosa; Preocupada"- Vemos então 3 problemas que impediam Marta de ter comunhão perfeita com O Senhor ali;
-A Distração, vem de colocar os olhos em qualquer outra coisa com a atenção que devia estar centrada em Jesus;
-A Ansiedade com a ideia de que alguma coisa era mais importante do que simplesmente se deixar descansar em Jesus;
-A Preocupação por fim, como resultado de não confiar que Jesus pede de nós nada além do desejo de adorá-lo na simplicidade de uma vida dedicada à verdadeira comunhão com Ele sem quaisquer interrupções.
O ACTO DE UNGIR
Na passagem de (Mateus 26:6-13) Vemos a descrição da boa ação de Maria incidir sobre "Ungir a cabeça" de Jesus e há uma referência ao "Alabastro" (Mateus 26:7) e em (João 12:4-6) vemos Maria "Ungir os pés" de Jesus e é feita uma referência a "Nardo" (João 12:3).
Há uma maravilhosa mensagem aqui passada que pode escapar facilmente aos olhos do leitor que lê superficialmente a escritura.
Em (Mateus 26:7) fala de um "vaso de alabastro com um unguento de grande valor" e em (João 12:3) refere "um arrátel de unguento de Nardo puro", o que pode confundir o leitor não familiarizado com os termos usados, e os simbolismos aqui presentes.
Para os menos atentos, até pode parecer que se tratam de momentos diferentes, mas não é o caso.
Os Vasos de alabastro eram feitos da mistura de minerais e eram produzidos para adornos de escultura, tendo aparência translúcida e frágil, usados também em perfumaria pelo seu aspecto delicado.
O "unguento" que estava no seu interior, é um óleo perfumado feito de Nardo uma erva usada especificamente pelas suas propriedades aromáticas e medicinais na proporção de um arrátel que é uma medida da antiguidade equivalente a 459 gramas.
O interessante é que estes óleos eram colocados dentro destes frascos de Alabastro delicados, e a única forma de se aceder ao seu conteúdo, era "quebrando" o frasco.
Assim são as vidas de verdadeira adoração a Deus, e serviço sincero a Jesus; A Bíblia diz: "Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus." (Salmos 51:17);
-Será que a nossa vida de sacrifício a Jesus em serviço e adoração tem sido feita com quebrantamento, derramando sobre Jesus tudo aquilo que temos por valioso ou precioso?
Se entendermos o simbolismo da nossa vida como um frágil vaso de alabastro, e o unguento como a vida cristã, valiosa para Deus, logo entendemos o quebrantamento do vaso, e a unção sobre Jesus como a retribuição em gratidão (Gálatas 2:20). Tudo o que temos é Dele, incluindo a nossa própria vida (Mateus 10:39).
Na carta aos Hebreus lemos: "E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o seu vitupério. Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura. Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome. E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada." (Hebreus 13:12-16).
Esta passagem fala de separação do mundo, daqueles que vivem à margem da Sociedade, e da cultura, oprimidos por amor a Deus em Verdade e justiça; Jesus também foi desprezado e posto do lado de fora, mas a Sua vergonha (o vitupério) é a nossa Glória.
Maria sendo "Afligida" por Judas e os discípulos injustamente (Mateus 26:10), fazendo uma boa obra, espelhava o que Jesus brevemente faria por todos nós, e também é reflexo do que nós como filhos de Deus sinceros, ainda hoje padecemos com o sacrifício das nossas vidas por amor a Jesus!
Os sacrifícios de que "Deus se agrada" (Hebreus 13:16) são conforme citados, o sacrifício do louvor em confissão do Seu nome que trata de uma vida acção de graças e de testemunho vivo de fé e dedicação ao serviço do nosso Senhor; o sacrifício da beneficência e comunicação, referem-se precisamente à boa acção que Maria teve para com Jesus, que são os actos voluntários de fazer o bem, de honrar, de servir, de suprir as necessidades, de agir no tempo certo para que o amor e a graça sejam comunicados através de nós ao mundo perdido.
O "ungir da cabeça" é reconhecer Jesus em toda a Sua autoridade com submissão e sujeição, sendo Ele a "cabeça da Igreja" (Efésios 1:22), O "Ungido de Deus" (Actos 10:38) (Actos 4:26-27);
O "Ungir os pés" é reconhecer o caminho que Jesus iria fazer indo até à cruz, e à sepultura, como O Próprio Jesus afirma (Mateus 26:12); Uma Homenagem a Jesus, Sua vida e Obra, e uma referência directa à profecia de (Isaías 52:7).
A todos os que têm "a mente de Cristo" (1 Coríntios 2:16) é pedida esta unção diariamente, honrando Jesus e reconhecendo que Ele é "O caminho" (João 14:6) pelo qual nossos pés devem sempre andar e seguir em Verdade para a vida eterna.
Devemos ofertar a nossa vida a Ele a cada dia, como Paulo refere o "sacrifício vivo" (Romanos 12:1); Os "sacrifícios espirituais agradáveis a Deus" (1 Pedro 2:5) que Pedro estimula aos crentes a ofertar.
O VALOR E O DESPERDÍCIO NA VIDA CRISTÃ
Maria nesta passagem de (Mateus 26:6-13) usa então este "unguento de grande valor" (Mateus 26:7) para honrar Jesus, e Sua presença ali em sua casa.
Imediatamente vemos referir que "os discípulos se indignaram com o desperdício" (Mateus 26:8); Se formos à passagem Paralela de (João 12:4-6) entendemos que esta "indignação" partiu de Judas Iscariotes, por causa da cobiça daquele dinheiro, que ele como responsável pela bolsa dos fundos, retirava para si mesmo.
O problema é que vemos na passagem de Mateus, que sua "indignação" fingida, rapidamente influenciou os outros discípulos que com ele estavam.
Na igreja do Senhor Jesus, sempre haverão "Judas Iscariotes", Homens religiosos, fingidos, hipócritas, disfarçando suas verdadeiras intenções por trás da sua religiosidade, criticando ou condenando as boas obras e o amor a Deus sincero, de modo a beneficiar com isso por meio da aparência de santidade.
Sempre haverão também, crentes pobres em entendimento como os outros discípulos ali, deixando-se influenciar para não entender o que é uma "boa acção" aos olhos de Jesus (Mateus 26:10) criticando os filhos de Deus sinceros dentro da Igreja que estão a agir conforme deles é pedido.
Há um contraste dramático entre a postura de Maria, simples, Humilde e sincera diante de Jesus, com a postura e conduta de Judas, presunçoso, fingido e interesseiro;
O fim de ambos na Escritura bem nos ensina a evidenciar ainda mais o contraste que há entre os 2; Maria é aquela que "recebeu a boa parte" (Lucas 10:42); Judas é aquele que traiu Jesus e se enforcou (Mateus 27:3-5).
Nunca deixe de fazer as boas obras sacrificando-se por amor a Jesus para honrá-lo com a sua vida, mesmo correndo o risco de causar indignação àqueles que estão cegos para ver o as suas boas obras, e para ver como elas agradam a Jesus! Lembre-se que Ele "se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras" (Tito 2:14).
Marta chegou a criticar sua irmã, quando ela se colocou aos pés de Jesus, aprovando-se a si mesma enquanto condenava Maria (Lucas 10:40); Contudo, a única coisa que convém lembrar naquela situação, é que Marta desaprovou Maria, mas Jesus aprovou Maria e desaprovou sua irmã (Lucas 10:41-42).
A grande ironia é que no fim de contas, Judas, preocupado com o "desperdício" do unguento, não conseguia ver todas as oportunidades desperdiçadas de Honrar Jesus enquanto teve oportunidade, sendo privilegiado com a Sua presença como poucos homens na História tiveram.
Acabaria por fim desperdiçando a sua própria vida, e reconhecendo no fim, a miséria das suas decisões pessoais, e o destino que lhe estava reservado.
O "tesoureiro" que ironicamente nunca viu Jesus como o seu tesouro.
Na passagem de (Mateus 13:45-46), Jesus fala em uma das Suas parábolas, sobre "o reino dos céus" e um "negociante que busca boas pérolas" e de seguida diz: "E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a" de modo a descrever o sentimento de valorização que nós enquanto pessoas damos àquilo que entendemos ter valor.
Ora um negociante de pérolas saberá avaliar quais pérolas têm valor e entre as que têm valor, qual teria valor inestimável acima de qualquer outra.
A analogia ao "reino dos céus" feita por Jesus está intimamente ligada à ideia de valorização que temos em relação às coisas espirituais, à entrada nesse reino, e à vida eterna em Jesus.
A frase célebre de Tim Elliot ecoa aos nossos ouvidos: "Não é tolo aquele que abre mão do que não pode reter, para ganhar aquilo que não pode perder"!
Da mesma forma que O negociante não viu nenhum desperdício em vender tudo o que tinha para comprar a pérola de grande valor, considerando-o um bom investimento, Assim foi com Maria quando derramou seu unguento valioso sobre Jesus; Investir em Jesus é com certeza um investimento que nunca vai à falência!
Paulo diz aos Coríntios: "Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens." (1 Coríntios 15:19) Assim, muitos homens se têm feito miseráveis e perdidos, pois não vêm Cristo para além desta vida; Inaptos e incapazes de contemplar Sua glória e Majestade, como Judas diante do Rei dos Reis, deu mais importância a míseras 30 moedas de prata (Mateus 26:15).
Talvez muitos crentes, à semelhança de Judas acordem um dia para a realidade do lugar onde se encontram, e a miséria resultante das suas escolhas sempre visando sua própria conveniência e interesse.
Muitas pessoas dentro das Igrejas, ainda que não se dêem conta, têm visto os cultos como um "desperdício de tempo", as ofertas para a obra, como um "desperdício de recursos" que podem ser usados para seu próprio benefício, e o Ministério e o serviço real como algo que de nada lhes aproveita comparado com as alternativas aliciantes deste mundo caído; Onde existem crentes sinceros e verdadeiros na integridade da fé servindo ao Senhor, sempre haverão igualmente os religiosos hipócritas que se servem a si mesmos por contraste; Na bíblia este tipo de homens sempre existiram, e a forma como Deus olha para uns e outros está bem registada na seguinte passagem:
As vossas palavras foram agressivas para mim, diz o Senhor; mas vós dizeis: Que temos falado contra ti?
Vós tendes dito: Inútil é servir a Deus; que nos aproveita termos cuidado em guardar os seus preceitos, e em andar de luto diante do Senhor dos Exércitos?
Ora, pois, nós reputamos por bem-aventurados os soberbos; também os que cometem impiedade são edificados; sim, eles tentam a Deus, e escapam.
Então aqueles que temeram ao Senhor falaram frequentemente um ao outro; e o Senhor atentou e ouviu; e um memorial foi escrito diante dele, para os que temeram o Senhor, e para os que se lembraram do seu nome.
E eles serão meus, diz o Senhor dos Exércitos; naquele dia serão para mim joias; poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve.
Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve.
-Entre o que serve a Deus e o que não o Serve, qual deles é realmente você?
Jesus acaba esta mensagem de (Mateus 26:6-13) calando a boca de todos, com uma declaração que devolve a honra de volta a Maria dizendo: "Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua." (Mateus 26:13).
O mundo tem esquecido muitos artistas, muitos génios, muitos nomes célebres e suas contribuições, mas esta mulher nunca será esquecida!
O mundo pode até não ter em memória o que esta mulher fez ali naquele dia, mas ela será eternamente lembrada nos céus, entre os santos, os anjos e na memória de Jesus!
Veja bem, a honra que há em servir a Jesus em sacrifício sincero, e todas as vezes que evangelizar alguém, faça como Jesus disse que seria feito, e honre Maria a mulher que entre os discípulos ali, era a menor de todos.
Todos os que se convertem devem lembrar desta mulher, e do sacrifício que pede quebrantamento.
Mas antes de se lembrar de honrar Maria, pergunte-se se tem honrado os seus irmãos em Cristo, que à semelhança dela também têm servido ao Senhor sacrificando o melhor que têm para honra do Seu nome.
Sirva a Deus, honre a Deus, ame incondicionalmente, sacrifique voluntariamente, dedique-se verdadeiramente, quebre o seu vaso de alabastro e derrame sobre Jesus a sua frágil existência, viva, morra e seja esquecido.
Jesus por certo, não se esquecerá.
E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna.
Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.
Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;
E andai em amor, como também Cristo nos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.

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