DEUS CRIOU O MAL? - Estudo de Isaías 45:7
- desaovicente
- Sep 20
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"Eu formo a luz, e crio as trevas; Eu faço a paz, e crio o mal; Eu, O Senhor, faço todas estas coisas."
Esta passagem de Isaías tem sido mal interpretada por muitos, que na sua ignorância e falta de conhecimento das Escrituras, pervertem o contexto tecendo opiniões sobre o texto que são verdadeiras heresias. A bíblia é um Livro peculiar e deve ser lido com o auxílio do Espírito Santo, com a inteira responsabilidade de pesquisa sobre o texto original, sua hermenêutica e exegese. De outra forma, cada pessoa que a lê tece a sua própria interpretação pessoal enganosa.
Para a compreensão do texto, primeiro há que conhecer o contexto; Aqui Deus está a comunicar uma profecia através do profeta Isaías, sobre um homem que Ele mesmo levantaria no futuro, que se iria chamar Ciro e teria um papel distinto no plano de Deus para o Seu povo (Isaías 45:1).
Esse homem não seria alguém que teria conhecimento de Deus, mas seria um pagão, ou alguém estranho a Deus e ao Seu povo (Isaías 45:4), mas Deus iria usá-lo para trazer juízo a muitas nações (Isaías 45:2). Ciro também seria usado para abençoar a Israel conforme se lê no versículo de (Isaías 45:4) e em (Isaías 44:28) no capítulo anterior.
De facto, Ciro teve um papel importante na volta de Israel do exílio babilônico muito tempo depois dessa profecia de Isaías 150 anos antes, conforme nos mostra o texto bíblico de (Esdras 1:1-3). Jeremias havia profetizado também acerca do exílio de Israel, e seu retorno por meio do decreto de Ciro que mais tarde conquistaria a Babilónia sendo o fundador do Império Persa (559—530 a.C.) (Jeremias 25:9-13).
A forma como Deus usa esta linguagem que parece ambígua também tem o contexto cultural de onde mais tarde viria Ciro (o império Persa).
Esta afirmação que parece demonstrar Deus na dualidade do "bem" e do "mal" é para criar simultaneamente uma semelhança em conceito, mas um contraste na natureza do Deus de Israel com os deuses da mitologia daquela época.
É uma declaração absolutista contra o dualismo zoroastrista da mitologia Persa, com seu eterno antagonismo entre Ormuz, o deus da luz e do bem, e Ariman, o deus das trevas e do mal.
Deus quer deixar claro que as circunstâncias "boas" ou "más" que recebemos, naquilo que muitos chamam de "sorte" ou "azar", são desígnios de Deus agindo sobre a nossa liberdade onde escolhas levam irremediavelmente a consequências.
Então o contexto do versículo de (Isaías 45:7) acontece quando Deus está a expressar a Sua glória poder e domínio, na forma de bênção e de Juízo sobre os Homens e sua liberdade.
Ciro e Israel são abençoados enquanto que Babilónia e as Nações inimigas de Deus e do Seu povo são castigadas severamente.
No texto Deus está a exaltar-se a Si mesmo através da pessoa de Ciro a quem levantaria e abençoaria para cumprir Seus desígnios, porém deixa claro que Ele, O Senhor, é quem está na direção de todo esse poder que Ciro receberia.
Em Seu discurso então, Deus faz afirmações absolutas e soberanas, como:
"Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão" no versículo (Isaías 45:1).
(Esta é uma exclamação de Intenção inabalável, determinação e autoridade)
"Eu irei adiante de ti, e endireitarei os caminhos tortuosos; quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro." no versículo (Isaías 45:2).
(Aqui Deus exalta Sua direção, força e rigidez)
"Eu sou O Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; Eu te cingirei, ainda que tu não Me conheças;" (Isaías 45:5).
(Deus proclama-se único em poder e em soberania)
Nós vemos claramente ao longo do texto que Deus está a criar uma imagem de Si mesmo esclarecendo que Seus desígnios não podem ser contornados ou impedidos.
"Ainda antes que houvesse dia, Eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; agindo Eu, quem o impedirá?"
Há uma clara ideia de domínio na forma como Deus age, tanto para o bem como para o mal, e este é o fundamento chave da interpretação do versículo de (Isaías 45:7) que não pode ser retirado do contexto.
O versículo então pode ser dividido em 3 afirmações principais:
"Eu formo a luz, e crio as trevas;"
"Eu faço a paz, e crio o mal;"
"Eu, O Senhor, faço todas estas coisas."
A referência à Luz (OR) e às Trevas (CHOSHEKH) transporta-nos para o momento da criação dos céus e a Terra (Génesis 1:1-3); Aqui Deus é Criador, como alguém que detém todas as coisas criadas no poder da Sua mão.
Esta luz e estas trevas no texto original, refere-se também ao dia e à noite conforme também aparece em (Génesis 1:5); Estes termos neste versículo não podem ser interpretados como o dia e a noite literais conforme os conhecemos, pois os astros como o sol, a luz e as estrelas, só foram criados posteriormente no 4º dia em (Génesis 1:14).
Este "dia" e "noite" ou "luz" e "trevas" têm conotação espiritual e referem-se ao "bem" e ao "mal" espirituais como quem é de Deus e quem é do Diabo (os eleitos e os não eleitos) (1 Tessalonicenses 5:5) (João 12:35), e por isso Deus deixa logo claro no início da Bíblia que a "Luz era boa" e as "Trevas" por contraste seriam "más" fazendo Deus separação distinta entre uma e outra (Génesis 1:4).
Se alguém quisesse forçar a interpretação de que o dia e a noite de (Génesis 1:5) são literais, logo entraria em contradição pela ordem da criação e dos dias, sendo ilógico que haja dia e noite sem haver primeiro um sistema planetário instalado e a rotação dos astros.
Então há que saber contextualizar em coerência o que o texto pretende dizer para se encontrar o significado correcto das passagens e de cada versículo.
Assim sendo, voltando à declaração do texto de (Isaías 45:7), quando lemos que O Senhor faz a Paz (SHÅLOM) e cria o Mal (RÅ) temos que encontrar a interpretação na qual não há contradição nas Escrituras.
Conhecendo já à partida o contexto desta passagem que é de bênção sobre Israel e sobre Ciro e de juízo sobre Babilónia e as Nações, a interpretação incide sobre fazer "bem" ou "mal" em termos de abençoar ou Punir; -Esta é a interpretação correcta.
O termo "crio o mal" deve ser entendido ou melhor traduzido por "crio a adversidade" – e não o "mal" moral ou o que se entende por "maligno" que é a origem do "pecado".
Isto porque a Bíblia é clara ao dizer que Deus é Santo, puro, e perfeito moralmente (Deuteronómio 32:4) (Salmos 19:8) (Salmos 11:7-8), não podendo de forma alguma participar, compactuar, ou ter comunhão com o mal.
2 versículos apenas esclarecem isto:
"E esta é a mensagem que Dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há Nele trevas nenhumas." (1 João 1:5)
"Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta." (Tiago 1:13)
Nas palavras de Jó entende-se o contexto correcto do bem e do mal referidos por Deus por meio de Isaías, e lemos:
"Porém ele lhe disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios." (Jó 2:10)
Este versículo aponta para a soberania de Deus como a certeza que Deus tem o controlo sobre todos os eventos e circunstâncias que ocorrem na realidade experimentada, e não que ele "criou o mal" como fez o mal surgir.
O "mal" aqui referido, é aquilo que nós como humanos entendemos como "mau" ou que nos "causa mal" (Uma doença, um acidente, uma desgraça, um problema ou adversidade menos agradável do ponto de vista do "bem estar")
Deus pode "criar o mal" como adversidade circunstancial na vida de qualquer um de nós, de modo a punir e disciplinar, ou simplesmente para nos provar produzindo em nós testemunho de fé como Jó nos dá um belo exemplo.
Todo o mal que sobreveio sobre Jó, veio por meio de Deus que permitiu Satanás a causá-lo em primeiro lugar. O mal porém que Jó passou foi "bom" para provar a sua fé diante de satanás, e deixar testemunho de sujeição para todos nós. Não é à toa que haja um sábio provérbio popular que diz: "há males que vêm por bem".
Hoje, temos as riquezas do Livro de Jó em inúmeras lições de fidelidade e bênção, por causa desse mesmo mal que Jó passou até ser novamente restituído por Deus.
Vejamos outra passagem para quem se queixa das suas sortes, ou acusa Deus de injustiça, tendo a mesma interpretação do "bem e do mal":
Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande?
Porventura da boca do Altíssimo não sai tanto o mal como o bem?
De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados.
Esquadrinhemos os nossos caminhos, e provemo-los, e voltemos para o Senhor.
No versículo 40 de Lamentações, é colocado um termo sobre a liberdade dos Homens de modo a que entendamos que "o bem e o mal" que sobrevêm sobre nós, muitas vezes podem estar intimamente ligados à forma como andamos diante de Deus (Ageu 1:3-11).
Nabucodonosor entendeu isto perfeitamente, depois de tentar a Deus com a sua vida (Daniel 4:24-30), e receber Do Senhor uma lição de humildade, e nas suas palavras vemos o discernimento do bem que Deus lhe fez causando-lhe todo o mal que sobreveio sobre a sua vida:
Mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao céu, e tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração.
E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?
No mesmo tempo tornou a mim o meu entendimento, e para a dignidade do meu reino tornou-me a vir a minha majestade e o meu resplendor; e buscaram-me os meus conselheiros e os meus senhores; e fui restabelecido no meu reino, e a minha glória foi aumentada.
Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalço e glorifico ao Rei do céu; porque todas as suas obras são verdade, e os seus caminhos juízo, e pode humilhar aos que andam na soberba.
A mente de Deus visão sempre o nosso benefício, quando estamos debaixo do Seu favor e graça; Ainda que muitas vezes o nosso benefício possa vir por meio de provações e disciplina, parecendo prejuízo.
"Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais." (Jeremias 29:11)
Outra passagem controversa que muitas pessoas mal interpretam e associam à afirmação de Isaías diz o seguinte: "O Senhor fez todas as coisas para atender aos seus próprios desígnios, até o ímpio para o dia do mal." (Provérbios 16:4)
O "ímpio para o dia do mal", seguido à declaração de que "O Senhor fez todas as coisas", parece evidenciar que os homens que Deus considera ímpios foram criados para fazer o mal; contudo não é disto que se trata o versículo e afirmar isto é uma grande heresia.
O que o versículo refere é que dentro dos pecadores condenados a quem a Eleição de Deus pela Graça não abrange, e a estes somente nascidos em pecado, naturalmente confortáveis em praticar o mal, Deus também usa soberanamente para ainda assim conduzir a Sua vontade incontornável.
Ou Seja, aos condenados e perdidos (os não eleitos), Deus continua a usar, para que sua prática da maldade sirva propósitos ainda maiores que Deus decretou necessários no Seu grande plano.
Acerca disto o profeta Amós também diz:
Sucederá algum mal na cidade, sem que o Senhor o tenha feito?
Os ímpios condenados também são instrumentos nas mãos de Deus para a concretização da Sua vontade. Não há ninguém que possa através de suas decisões, construir realidades tanto pessoais como colectivas, que possam transcender ou contrariar a soberania de Deus.
Por vezes um perdido praticando o mal visa a conversão de um eleito; ou a punição de outros perdidos; ou ainda em alguns casos o mal praticado num momento é transformado em bênção terrena para muitos (tanto salvos como até outros perdidos); E todas estas coisas fazem como diz o versículo: "Atendem aos Seus próprios desígnios"; A vontade de Deus é maior e mais elevada que a nossa, não há como entender na totalidade, muito menos combater e contrariar. (Isaías 55:8-11)
Foi Assim que José percebeu e perdoou a traição de ser vendido pelos seus próprios irmãos tornando-se um homem de poder caindo nas graças do Faraó:
Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida.
Você quer entender também os desígnios de Deus e ter boa interpretação da Sua Palavra?
Seja um pouco mais paciente como Jó, do que como seus amigos; um pouco mais humilde como Nabucodonosor; Seja um pouco mais íntegro como José, e não como seus irmãos.
Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás.
Reparte com sete, e ainda até com oito, porque não sabes que mal haverá sobre a terra.
Estando as nuvens cheias, derramam a chuva sobre a terra, e caindo a árvore para o sul, ou para o norte, no lugar em que a árvore cair ali ficará.
Quem observa o vento, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará.
Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas.
Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará, se esta, se aquela, ou se ambas serão igualmente boas.
Certamente suave é a luz, e agradável é aos olhos ver o sol.
Porém, se o homem viver muitos anos, e em todos eles se alegrar, também se deve lembrar dos dias das trevas, porque hão de ser muitos. Tudo quanto sucede é vaidade.
Alegra-te, jovem, na tua mocidade, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo.
Afasta, pois, a ira do teu coração, e remove da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são vaidade.






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