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Julgar ou não Julgar

O termo "julgar" está recorrentemente envolto em toda a espécie de controvérsia dentro das comunidades Cristãs, pois não é bem entendida a sua natureza aplicável, e seu verdadeiro propósito.

A pergunta em questão a fazer então é: - O cristão pode ou não julgar?

Para algumas pessoas, o verdadeiro cristão é alguém que não julga; Ele sabe o que é o pecado, consegue reconhecê-lo em si e nos outros, mas ele nunca identifica publicamente alguém ou ele mesmo de pecador. Na verdade, ele preferirá quando confrontado com o pecado, falar ao invés do Amor de Deus, e da compreensão, e da tolerância, chegando até a abrir mão da disciplina eclesiástica, pois, afirmará :“quem sou eu para julgar o meu irmão?”

Outros adotam uma postura mais agressiva: medem a espiritualidade das pessoas exclusivamente por meio das suas obras, chegando em alguns casos ao ponto de criar uma escala espiritual dos crentes, onde uns são santos e consagrados, e outros são mundanos e depravados. Os mais exagerados chegam até mesmo a declarar que algumas pessoas são salvas, e outras não, baseadas na manifestação física dos seus "pecados" como evidências do não cumprimento fiel das obras e da obediência e desta forma aplicam juízos extremistas que vão muito além do bom senso.

-Como saber então o posicionamento adequado em relação ao acto de julgar?

-Mas porque razão o termo "julgar" é sempre aplicado em 2 extremos, na visão de muitas pessoas? Será o "Julgar" só aplicável numa determinada perspectiva como algo tão mau para ser totalmente desprezado no Cristianismo, ou noutra totalmente oposta, a ser implementado militarmente numa espécie de inquisição religiosa?

 

Uma das formas mais determinantes e flagrantes para detectar mera religiosidade, hipocrisia e injustiça no Homem (como ser intrinsecamente corrompido e ambíguo), é apresentar-lhe a oportunidade de submeter algo ou alguém a julgamento e apreciação, quando este está seguro de não ser ele mesmo o alvo, e de seguida proporcionar forma de reverter para ele o mesmo padrão de exigência que ele aplica, já longe da sua zona de conforto e segurança.

 

Não julgueis, para que não sejais julgados.
Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.
E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?
Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.

Mateus 7:1-5

"Não julgueis" -Quer mesmo dizer que não podemos nunca julgar? 

Recorrentemente conseguimos detectar dois pesos e duas medidas na maioria das pessoas, porque é sempre mais fácil para nós acusarmos e detectarmos as falhas dos outros, do que as nossas próprias deficiências de carácter. As Crianças apontam o dedo para o outro na primeira chance que têm se forem encurraladas nos seus delitos, porque está gravado no dna do Homem, a natureza de Adão pelas mãos do próprio Satanás e sua influência.

Adão acusou Eva na primeira oportunidade que teve, e ainda acusou Deus de seguida, desviando a responsabilidade do seu pecado para outros que não ele.

Satanás -"o Acusador"). Šayṭān (Arabe: شَيْطَان‎) e Šāṭān  (Hebreu שָׂטָן) Vive para acusar os Santos, e não o faz porque tenha Amor à Santidade e à Justiça imaculadas de Deus, mas porque tem prazer em evidenciar a natureza caída do Homem, fruto do seu próprio engenho. Um desejo hipócrita de ver a Ira de Deus sendo derramada nos outros, sabendo que isso também entristece a Deus (Jó 2:2-4) (Ezequiel 18:23) (Ezequiel 18:32), pois Deus não tem prazer nenhum em lançar ninguém no inferno (2 Pedro 3:9) (1 Timóteo 2:4).

Uma das características naturais do Homem miserável, é a de se ser simultaneamente "Pecador" (defendendo fervorosamente o seu próprio pecado, desculpando-se perante Deus), e de ser "Acusador" (apontando o dedo agressivamente para os pecados dos outros, na frente de Deus).

Na Verdade nós (seres humanos) gostamos de julgar e sabemos que julgar é necessário para que haja ordem, organização, moderação e justiça; de outra forma não viveríamos em democracia, não amaríamos a diplomacia e a educação, e já teríamos abolido da nossa civilização todas as forças de autoridade Judicial, polícias, advogados, Juízes e tribunais. Continuamos a manter todas estas coisas, porque Por Deus recebemos a capacidade de entender o bem e o mal, discernir sobre ambos, e aplicar juízos de valor que nos distinguem, e nos permitem viver segundo um padrão que colectivamente sabemos ser absolutamente necessário para a manutenção harmónica da Vida.

O Oposto disto, (A Anarquia) é um modelo rejeitado pela maioria das pessoas; até mesmo por aqueles que rejeitam a Deus, porque quando nós mesmos somos vítimas da injustiça cometida contra nós, somos os primeiros a gritar por Justiça, e a exigir que aqueles que nos oprimem sejam submetidos a julgamento e exposição pública. O próprio acto de afirmar que ninguém nos pode julgar, é um acto de julgamento absoluto e manifesto. Se Julgar é mau, afirmar que é mau, é aplicar um juízo de valor, portanto é uma proposta contraditória em si mesma, tornando-se inútil de um ponto de vista racional.

-Então porque razão podemos julgar os outros dizendo que julgar é reprovável, e os outros não nos podem Julgar a nós, quando o nosso comportamento é submetido a apreciação e é igualmente reprovado?

- Acto de Julgar - na verdade significa: Proceder ao exame da causa de; Decidir (como juiz, árbitro); Formar juízo acerca de; Formar conceito; avaliar; submeter a apreciação; expor à crítica; expor ao escrutínio; analisar.

Aqui reside o "Grande" problema com o acto de julgar; muitas pessoas pretendem julgar os outros com o único objectivo de criticar de forma depreciativa ou punitória, movidos por pura mesquinhez e amor ao conflito como o faz o próprio Satanás.

Outros jamais sabem aceitar que podem ser submetidos a crítica alheia, crendo-se infalíveis, incapazes de cometer erros, e portanto não podem aceitar nem querem assumir críticas que lhes sejam direcionadas, carregando-se de ultraje, susceptibilidade e violência contra qualquer idéia de imperfeição que seja exposta no seu carácter ou conduta.

Por isso o acto de julgar tem sido palco para controvérsias, debates fervorosos, e tão mal entendido pelo mundo. Pura ignorância tem ditado novas Verdades, até mesmo entre pessoas que se auto-intitulam Cristãs, mas que nada sabem sobre Cristo, e as responsabilidades que temos como extensões do Seu padrão imaculado de Santidade.

 

Julgar é o grande privilégio dos Santos, dado com o propósito de sermos agentes da Justiça, promotores da Verdade e com isso reflectirmos a Glória de Cristo. Julgar é o privilégio dos Santos pois a Santidade é o grande padrão pelo qual apreciamos a vida.

Julgar é apreciar, observar, submeter a crítica, examinar, no sentido de aplicarmos em tudo um padrão de exigência perfeito (centrado em Cristo), com o intuito de aprimorar, polir, corrigir, elevar, dignificar, e aperfeiçoar aquilo que precisa de cuidado. Esse compromisso com a excelência não é um fardo ou um transtorno, mas sim um prazer, porque o fazemos para a Glória do nosso Deus. Por isso devemos fazê-lo com grande responsabilidade e zelo, para que em tudo sejamos imaculados e irrepreensíveis não sendo nós transtornados pelo nosso Julgar, ou quando somos nós submetidos a julgamento. Julgamos visando a equidade, a justiça, a rectidão e o amor para que a obra do Senhor seja exaltada, e o Seu carácter Santo evidenciado em nós, extensão da Sua Graça e misericórdia. O nosso Acto de "julgar" o que quer que seja, para ser legítimo, deve ser centrado em Cristo, de forma a honrar O Seu Amor, A Sua Justiça e a Sua Verdade.

 

Mas o Senhor está assentado perpetuamente; já preparou o seu tribunal para julgar.
Ele mesmo julgará o mundo com justiça; exercerá juízo sobre povos com retidão.

Salmos 9:7,8

 

Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo;
E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem.

João 5:26,27

O nosso Senhor é o Eterno Juiz, e nós como Seu povo, temos o dever de julgar todas as coisas, segundo a óptica de Cristo, sendo nisto também Seus imitadores, usando de imparcialidade, integridade, e compaixão, enaltecendo o bem para que triunfe sobre todo o engano, e denegrindo o Mal, para que seja envergonhado e desprezado pela Verdade.

Julgar é um dever, mas também uma grande responsabilidade como descrito acima em Mateus 7:1-5; nisto temos de cuidar primeiro de aplicar os mesmos padrões de exigência num espectro pessoal, interior, para que não sejamos réus da nossa própria consciência, sendo nós mesmos acusados pelas nossas palavras e atitudes hipócritas. Por isso somos advertidos a reter o nosso julgamento (Mateus 7:1-2) se este não for justo, idóneo, e visando sempre o amor e a vontade de consciencializar outrém do perigo das suas atitudes ou posicionamento. Porque com a medida que julgarmos, seremos também julgados, criando espaço para que, se por mediocridade formos implacáveis com os outros, também nós sofreremos de forma implacável a Justiça Daquele que é O Verdadeiro Juiz, e autoridade máxima no padrão perfeito de Excelência.

Devemos sempre julgar depois de nos submetermos a nós mesmos a uma auto-análise, indo a Deus em oração e entrega, para que seja Ele a conduzir a nossa conduta, para que em nada sejamos pedra de tropeço, ou motivo de escandâlo e conflito.

 

Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.
João 7:24

2 realidades que podem acontecer no acto de julgar:

  1. -Mal interpretarmos uma situação, e julgarmos demasiado rápido algo que não é na verdade o que parece, por falta de prudência e discernimento.

  2. -Sermos mal interpretados no nosso Juízo, por alguém que rapidamente nos traça um perfil de acusador, ou de hipócrita sem noção alguma do propósito justo do nosso Juízo.

Por isto devemos antes de dar o passo para processar Juízos de Valor sobre algum comportamento ou situação, observar com prudência, esperar com paciência, entender todos os contornos de uma determinada circunstância, e sobretudo, primeiramente elevar o nosso entendimento em oração a Deus suplicando por orientação para que a nossa intenção seja legítima, justa e vise sempre e acima de tudo o benefício da pessoa a quem pretendemos julgar, e a Glória de Cristo.

Porém haverão sempre muitos que dirão que ninguém os pode julgar, só Deus o pode fazer; como se isso lhes conferisse alguma espécie de liberdade intocável, no que diz respeito ao seu próprio comportamento rebelde, e carácter desobediente. Quem assume esta postura, na verdade nem concebe a idéia de que um dia de facto Deus o/a julgará, e por isso busca esta resposta como zona de conforto e protecção contra críticas alheias.

-Se só Deus te pode julgar, isso não te dá medo? (poderia alguém contrapor)

A vantagem de nós nos julgarmos uns aos outros primeiro, consecutivamente, recorrentemente, abundantemente durante o curso das nossas vidas, visando sempre o perfeito padrão de Justiça, estaremos com amor, a livrar-nos uns aos outros do Julgamento daquele dia, em que O Justo Juíz o fará empunhando a Sua Espada de Fogo e o Seu Martelo de Glória. Talvez aí muitos gritarão de arrependimento por não terem querido terem sido julgados pelos seus próximos.

Como pode um Cristão dizer, que não podemos julgar, quando em tudo somos ensinados a ser imitadores de Cristo? Como nós podemos ousar desviar os olhos do mal, optando pela neutralidade silenciosa, enquanto o mal opera e prolifera? Cristão que se cala constantemente em relação ao mal, não tem nele a Luz de Cristo, pois a Luz tudo expõe, e as trevas não lhe resistem.

 

Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos?
Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas?
Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?
Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes para julga-los os que são de menos estima na igreja?
Para vos envergonhar o digo. Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?

1 Coríntios 6:1-5

Julgar é necessário, mas amar é fundamental; Ninguém pode sequer ousar levantar a sua voz para apontar erros a alguém do qual não se tem amor, pois juízo sem amor é como um barco em terra seca; não leva a absolutamente lugar nenhum.

Por vezes quando constantemente confrontados com os defeitos do carácter alheio, por continuadamente submetidos à exposição da malignidade e mediocridade daqueles com quem convivemos, damos por nós a ser demasiado críticos, constantemente criando atrito por evidenciar o mal. 

Por combater o engano fervorosamente, somos muitas vezes desprezados pelos outros ao ponto de até nós mesmos termos dificuldade em lidar com isso, achando que nos falta o amor, que estamos a ser farisaicos, excessivos, desagradáveis, mas nós bem sabemos que O nosso Senhor foi perseguido pelas mesmas razões.

Ninguém Crucifica alguém que está sempre calado e não diz nada de acusatório e desagradável àqueles que amam o pecado. Sempre que você denunciar o pecado, prepare-se para ser você próprio vítima de julgamento.

 

Não se esfrie, não desanime, mas em tudo auto-examine-se, buscando de Deus bom senso, noção de tempo oportuno, para que o nosso acto de "julgar" seja como o nosso amor; fervoroso. Assim como a nossa devoção à perseguição do erro, denunciando sempre que possível o pecado tornado zona de conforto, tanto em nós mesmos como naqueles a quem amamos; Porque há mais de amor na crítica do erro, do que na sua permissão omissa.

Amai-os uns aos outros, para que o vosso Juízo seja amoroso, aceitável e desejado; Amai-vos uns aos outros para que quando também vocês forem surpreendidos nos vossos próprios delitos, também seja o amor que vos encontre antes do Juízo, pois o Amor, produz misericória, e esta produz um Juízo Justo que em nada pode ser reprovado.

Em tudo, olhar para Cristo primeiro; em tudo, elevar a mente e o coração a Deus em oração, pedindo que Seja o Seu Juízo e o Seu padrão de Equidade a guiarem as nossas palavras, os nossos olhares de reprovação, e as nossas misericórdias, para que não caiamos na vergonha dos dois pesos e duas medidas que o nosso Senhor Abomina conforme (Provérbios 20:10) tão eloquentemente nos adverte.

Somos Livres para fazermos o que quisermos, mas não somos Livres para determinar as consequências daquilo que fazemos, por isso se não queremos nós ser julgados indevidamente, devemos ponderar as razões iniciais que nos levam a querer consciencializar alguém dos seus erros.

Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade.
Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.

Tiago 2:12,13

Porque algumas passagens Bíblicas parecem dizer que não podemos julgar, e outras contraditoriamente parecem afirmar o oposto, muitos ficam reticentes em relação à questão de julgar, e proferem sempre eles também discursos confusos e pouco firmes, que podem levar rapidamente a péssimos testemunhos da Fé Cristã, pondo até em causa a legitimidade e a autoridade da Bíblia como fonte de credibilidade.

Embora Jesus Cristo tivesse dito que Ele não julgava as pessoas (João 8:15) ou que nós não deveríamos julgar (Mateus 7:1), podemos ver vários momentos em que o Senhor Jesus emitiu juízos, aliás nestas mesmas passagens versículos adiante, Julgar é tido como lícito quando feito com legitimidade e autoridade (João 8:16) (Mateus 7:12)(Mateus 7:20):

Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando.
Mateus 23:13

Condutores cegos! que coais um mosquito e engulis um camelo.
Mateus 23:24

Mas Ele lhes respondeu, e disse: Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará outro sinal senão o sinal do profeta Jonas;
Mateus 12:39

E ele, respondendo, disse-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu coração está longe de mim;
Marcos 7:6

E ele, respondendo-lhes, disse: Ó geração incrédula! até quando estarei convosco? até quando vos sofrerei ainda? Trazei-mo.
Marcos 9:19

Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.
Mateus 7:6

Estes versículos são apenas uma amostra de vários juízos proferidos por Jesus. Além destes, podemos achar outros, como os "ais" carregados de Juízo, pronunciados contra Corazim, Betsaida e Cafarnaum (Lucas 10:13-15), a declaração de Cristo a vários judeus que haviam crido nele, dizendo que eles eram filhos do Diabo (João 8:44) e várias passagens onde Cristo diz que quem não crê nele, já está condenado (João 3:18) (João 3:36), etc.

À luz destas passagens, revela-se falso o argumento de que, baseado no ensino dos Evangelhos e no modelo de vida de Jesus, o cristão não pode julgar a ninguém, pois isto não é Bíblico, nem tampouco espelha a realidade da postura de Jesus em determinadas ocasiões. Cristo julgou vários grupos de pessoas; Ao contrário de nossa visão suavizada (e muitas vezes secularizada) acerca do Senhor, vemos que Ele, em Sua ira Santa e Verdade, chamou os fariseus de “hipócritas”, disse que não deveríamos jogar pérolas a “porcos” ou dar o que é santo aos “cães”, além de considerar a sua geração como sendo “perversa”, “adúltera” e “incrédula”. Em todos estes momentos, Jesus mediu estas pessoas, achou-as em falta e emitiu um comentário ou juízo sobre eles, e nenhum deles foi "agradável", segundo o prisma secular do mundo, mas todos eles foram feitos por Amor e misericórdia em Verdade.

O problema é que assim que as pessoas do mundo, ouvem um Juízo de Valor, seja ele bem aplicado ou não, elas ficam indignadas e sem que se deixem consciencializar pelo amor da intenção ou pureza e Verdade do Juízo, elas ripostam em ultraje, como se o Juízo contra elas fosse um acto de terrorismo emocional. Quando as pessoas adoptam radicalmente a posição de vítimas, tudo o que for contra a sua vontade e satisfação é tido naturalmente como opressor. Vivemos em dias tão obscenos, que é considerado muito pior julgar o mal, do que praticá-lo.

-Mas isto quer dizer que não devemos falar, sob a consequência de "importunar" os descrentes com os nossos alertas? O Que diz a Bíblia sobre como lidar com as obras das trevas, pelas quais os Homens erram cometendo pecado para a condenação eterna?

E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as.
Efésios 5:11

-Isto quer dizer que estamos a julgar as pessoas para as prejudicar deliberadamente? Óbvio que não!

Nós devemos sempre falar pela obediência que devemos a Deus primeiramente. Contemplemos pois as seguintes passagens:

Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer deixem de ouvir, pois são rebeldes.
Mas tu, ó filho do homem, ouve o que eu te falo, não sejas rebelde como a casa rebelde; abre a tua boca, e come o que eu te dou.

Ezequiel 2:7,8

E eles, quer ouçam quer deixem de ouvir (porque eles são casa rebelde), hão de saber, contudo, que esteve no meio deles um profeta.
Ezequiel 2:5

Filho do homem: Eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; e tu da minha boca ouvirás a palavra e avisá-los-ás da minha parte.
Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; e tu não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca do seu mau caminho, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniqüidade, mas o seu sangue, da tua mão o requererei.
Mas, se avisares ao ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu mau caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma.
Semelhantemente, quando o justo se desviar da sua justiça, e cometer a iniqüidade, e eu puser diante dele um tropeço, ele morrerá: porque tu não o avisaste, no seu pecado morrerá; e suas justiças, que tiver praticado, não serão lembradas, mas o seu sangue, da tua mão o requererei.
Mas, avisando tu o justo, para que não peque, e ele não pecar, certamente viverá; porque foi avisado; e tu livraste a tua alma.

Ezequiel 3:17-21

No entanto, alguém pode argumentar dizendo que Jesus, devido à sua condição única de "Deus-Homem", tinha o direito de julgar aos outros. Afinal, de contas segundo João:

E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo;
João 5:22

Em outras palavras, muitos defendem que Jesus pode julgar as pessoas porque Ele é Deus. Ele nunca faria um julgamento incorreto ou impreciso, além de ter todas as qualificações morais necessárias para ser um Juiz. Nós não temos esta capacidade por isso não podemos julgar.

Contudo, apesar das nossas óbvias limitações e finitude humanas, o ensino dos apóstolos nos diz claramente que podemos e devemos emitir juízos se assim for necessário, visando o bem, a harmonia e a Justiça em Verdade, porém não o juízo de denegrir as pessoas somente pelo prazer de as expor nos seus pecados sem nenhum fim digno que vise o seu benefício; afinal o "Julgar" cristão é um acto de amor primeiro para com Deus depois para com os Homens, que deve visar sempre o intuito de remover alguém debaixo da ira Santa Divina, ou proteger os Cristãos dos caminhos escusos do mundo e seus adeptos ímpios, e portanto não deve incluir nenhuma outra intenção de coração que não estas:

(1 Coríntios 5:3-5) (1 Coríntios 5:11) (2 Coríntios 11:13,14) (2 Pedro 2:12,13) (2 João 1:10,11)

Dentro destes exemplos de Juízo da parte dos Apóstolos, entendem-se expressões como "Com tais pessoas vocês nem devem comer", "nem os receber em casa, nem os saudar sequer"; como comparar alguns que se fazem passar por cristãos a "animais irracionais", ao até comparando-os ao próprio "satanás".

Estes Juízos de Valor feitos pelos Apóstolos não eram Juízos Cristãos? Se um Juízo de valor é cristão ou não, nem é muitas vezes perceptível no Juízo em si, mas na intenção pela qual é dito e basta analisar as passagens em questão para se ver que a intenção dos Apóstolos eram mais que legítimas.

Vemos portanto que três apóstolos, Paulo, Pedro e João julgaram a pessoas e fizeram-o pela autoridade de Jesus. Na verdade, é impossível cumprir alguns mandamentos sem que se avaliem as pessoas. Paulo disse que não nos devemos associar a quem diz que é cristão, mas é notoriamente imoral, avarento, idólatra, entre outros. Para que eu obedeça a esta ordenança, preciso olhar para a vida do "dito cristão" em questão e ver se ele incorre em algum destes erros recorrentemente e se faz destes pecados sua prática diária.

João diz que não devemos nem saudar aqueles que negam a encarnação de Jesus e os hereges que vão além do ensino de Cristo. De igual modo, para que eu obedeça à instrução de João, devo julgar a conduta, postura e comportamento de alguém de modo a discernir se estou na presença de um "Cristão fiel" ou de um "falso Cristão" ou ainda de um herege.

O bom senso também nos mostra que fazemos julgamentos o tempo todo; 

A bíblia ensina-nos a julgar todas as coisas usando do discernimento do Espírito Santo para este mesmo fim. Vejamos:

  • (1 Tessalonicenses 5:14) - "Rogamo-vos, também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos." -Fica díficil admoestar alguém sem previamente julgar a necessidade da repreensão.

  • (1 Timóteo 3:2) (Tito 1:6,7) - "Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar;","Porque convém que o bispo seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo..." -Como podemos entender, fica díficil saber se alguém é irrepreensível, sem se julgar as evidências da sua conduta primeiro.

  • (Mateus 18:15-17) - "Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o...E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano." - Não é possível repreender ninguém e aplicar medidas contra alguém sem previamente julgar o seu comportamento, conduta ou carácter. A disciplina eclesiástica também é uma ordenança divina e é evidente aqui nas Palavras de Jesus para bom funcionamento da Igreja e das comunidades Cristãs.

Então é possível à Luz das Escrituras afirmar que o Cristão pode sim Julgar. Agora o que é preciso é determinar 2 posturas distintas em relação ao "acto de Julgar" Cristão:

  1. "como" um Cristão deve julgar?

  2. "como" as pessoas devem agir quando são julgadas devidamente por um Cristão (especialmente se elas também forem cristãs).

Um Cristão deve "julgar" todas as coisas, incluindo ele mesmo, como se ele estivesse antecedendo o tribunal de Deus, no dia do Juízo final. Isto quer dizer o quê propriamente? Que o Cristão deve a todo o custo prevenir que ele mesmo, seu irmão em Cristo, ou qualquer outra pessoa tenham de prestar contas diante de Deus, no dia em que o Juízo virá sem absolvição alguma; desta forma alertando com amor e preocupação para os perigos do pecado, da rebeldia, da desobediência, do relativismo e suas iminentes repercursões. O acto de julgar deve visar em primeiro lugar a oportunidade de alguém ganhar consciência da sua condição, da forma como Deus vê a sua condição, e do que é necessário fazer para remediar a bom tempo algo que pode a seu tempo produzir punição, temporária ou eterna. A punição de Deus pode ter efeitos imediatos, ou a longo prazo, por isso devemos alertar as pessoas para o perigo do pecado. Podemos cometer erros sem pecar, mas não podemos pecar sem cometer vários erros, e é por isso que o erro, deve ser evidenciado, de forma a consciencializar alguém de que algo está mal, e deve ser consertado, seja ele pecado ou não, mas muito principalmente se for pecado.

Quando alguém está a ser julgado por um Cristão, se é alguém conhecido ou próximo não é de estranhar que já tenha uma opinião formada em relação à sua legitimidade para julgar, e por isso deve reconhecer 2 coisas em primeiro lugar:

  • O Cristão que o julga é um cristão hipócrita, farisaico, cuja vida espelha mera religiosidade e nada mais e isso é de conhecimento comum a todos? Se a sua opinião dele é essa e está bem fundamentada (depois de você o julgar a ele nesse sentido), você deve perguntar-se, se embora sendo hipócrita e sem legitimidade para julgar quem quer que seja, haja possibilidade de ele estar mesmo assim certo no seu julgamento sobre si. Ele está certo em julgá-lo? Se não está; elucide-o nesse sentido, apelando ao bom senso, usando de discernimento e falando-lhe da "trave" que pode estar no seu próprio olho, e sobretudo da injustiça ou má aplicabilidade do seu propósito ao Julgar. Se ele está certo a seu respeito, ignore a sua hipocrisia, e dê um bom testemunho ao aceitar a crítica, e tome-a de forma construtiva, mesmo que ela tenha na sua origem uma intenção destrutiva. Combata o mal com o bem, e aprenda a dar melhores exemplos para que os hipócritas não tenham nada contra si.

  • O Cristão que o julga é alguém que você sabe ter muitos defeitos, (como você também tem), mas você sabe que ele é um Cristão verdadeiro, firmado na Palavra de Deus, por isso você atenta para a repreensão que ele lhe dirige, e com humildade ou o corrige, estando ele errado, defendendo-se biblicamente, ou você reconhece o seu erro, e agradece pela consciencialização que lhe foi dirigida, pois você sabe que ela tem como maior propósito a sua edificação.

Não é preciso fomentar-se uma espécie de guerra emocional com tudo e todos, no acto de julgar, sendo você a julgar alguém ou você sendo julgado. Lembre-se de que todos nós nos julgamos uns aos outros constantemente, e toda a nossa sociedade é construída sobre percepções. Pessoas ganham ou perdem empregos porque são julgadas ou bem ou mal por quem as entrevista; relacionamentos começam ou acabam pela mesma razão; Amizades são fortalecidas ou fragilizadas pelas opiniões que geramos nas pessoas à nossa volta. Isto é natural, e é uma forma que aprouve a Deus permitir para que nos fosse mais fácil preparar para o Julgamento Final. Aliás quem de nós não passou a sua vida inteira ou a julgar ou a ser julgado pelos outros?

O objectivo de um Cristão é primeiro de tudo julgar-se a si mesmo, lembrando-se todos os dias, tendo presente na sua mente e no seu coração de que O Deus do Velho Testamento é o mesmo Deus do Novo Testamento; Aquele que é um Deus de Amor, mas também um Deus de Justiça. Desta forma, fica mais fácil ter consciência do peso que recai sobre os ímpios que estão sem Cristo, e ganhar um sentido de urgência e responsabilidade mais ousado e destemido, no anunciar do Evangelho.

O Senhor é Deus zeloso e vingador; o Senhor é vingador e cheio de furor; o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos.
O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em poder, e ao culpado não tem por inocente; o Senhor tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés.

Naum 1:2,3

Se conhecemos todos os atributos de Deus, sabemos que existe um grande termo de responsabilidade individual no acto de viver a nossa Fé publicamente. Por isso falamos ousadamente sobre as consequências do pecado; pois se o Seu Juízo é uma coisa terrível de se imaginar, quanto mais estar por ele condenado. Por isso a Bíblia nos ensina constantemente a importância do Vigiar (Lucas 21:36), do Orar (1 Tessalonicenses 5:17), do admoestar (1 Tessalonicenses 5:11), para que o pecado não seja suavizado, escondido ou relativizado, e ao contrário seja combatido em Verdade. Porque tendo tido conhecimento da Verdade, se continuarmos a viver vidas de desobediência, e rebeldia e relativismo, desprezando continuadamente a obra que Jesus fez na Cruz, morrendo por nós, (Hebreus 6:4-6) não nos resta nenhuma outra alternativa que não o Juízo.

E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras,
Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia.
Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados,
Mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários.
Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas.
De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?
Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo.
Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.

Hebreus 10:24-31

Todo o pecador tem de ser julgado, pois ninguém pode se arrepender, sem reconhecer primeiramente a sua natureza pecadora. Para alguém dizer "arrependam-se e creiam no Evangelho", tem de naturalmente julgar que estas pessoas são pecadoras e que precisam se arrepender. Assim como as pessoas que ouvem estas palavras, só se podem consciencializar do seu pecado, se puderem julgar-se a si mesmas.

Os pecadores naturais, mas obedientes a Deus, eles até amam a repreensão, e o julgamento que lhes é dirigido, pois reconhecem nele, a oportunidade de melhoria, e crescimento no carácter, e edificação Espiritual.

Os pecadores resistentes; aqueles que se recusam a admitir o seu pecado (como Ananias e Safira ou os fariseus), os hereges que não aceitam correção (como os falsos apóstolos descritos por Paulo), os que se fazem passar por irmãos, mas não o são (os homens com os quais não nos devemos associar), os imorais que não se arrependem dos seus erros e continuam a praticá-los (o caso de disciplina mostrado em 1 Coríntios 5), todos estes são exemplos de pessoas que são passíveis de julgamento.

Porém não devemos condenar os pecadores que reconhecem o seu erro e se arrependem, ao contrário a eles devemos o amor e a misericórdia que levam ao fortalecimento na Fé. A adúltera apresentada a Jesus (João 8:3-11), o publicano Zaqueu (Lucas 19:5-10) e a pecadora que ungiu os pés de Jesus (Lucas 7:37-48) são exemplos de pessoas que foram julgadas pelas pessoas que os cercavam, mas que não foram julgadas por Jesus. Tratavam-se de pecadores que estavam a buscar o arrependimento, corações que tinham sede de Jesus e que não foram resistentes ao Evangelho. O pecador que sabe a gravidade de seu pecado e que está a lutar para abandoná- lo e se aproximar de Deus, deve ser acolhido por nós, como estes o foram por Jesus.

Se temos verdadeira noção de onde Jesus nos tirou, e da nossa condição miserável, inevitavelmente, vamos usar de um Juízo amoroso, que visa o benefício daquele que está em pecado, e não a sua punição.

-O juízo Cristão vem para a Salvação do pecador e não para a sua condenação. É isto que o mundo não entende, porque muitas vezes também não é isto que os "Cristãos" passam para o mundo.

Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este mesmo pensamento, que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado;
Para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus.
Porque é bastante que no tempo passado da vida fizéssemos a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias;
E acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução, blasfemando de vós.
Os quais hão de dar conta ao que está preparado para julgar os vivos e os mortos.
Porque por isto foi pregado o evangelho também aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito;
E já está próximo o fim de todas as coisas; portanto sede sóbrios e vigiai em oração.
Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados.

1 Pedro 4:1-8

O problema de muitos cristãos, é esquecerem-se que também são pecadores, e por isso no acto de julgarem os outros, esquecem-se da sua condição pecadora, que se não fora pela Cruz, estariam igualmente sobre o jugo da carne, sem discernimento, e sem nenhuma afeição por Deus e pela Sua Justiça. Lembre-se de que se você mesmo não é o maior pecador que você conhece, então você precisa conhecer-se melhor.

Nós devemos sim evidenciar o erro do pecado, e dirigir ao pecador palavras de urgência ao arrependimento, contudo isso não nos dá o direito de imediatamente condená-los; a nossa primeira preocupação deverá ser a de evangelizá-los, e, caso eles não aceitem o Evangelho, deixá-los, não usando o Evangelho como um transtorno impositório, e pregar o Evangelho a outros incrédulos que estejam receptivos, pois é a Verdade em si que os condena, segundo a Lei de Deus para os que estão sem Cristo conforme descrito tão claramente na passagem de (João 3:18).

E, em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai saber quem nela seja digno, e hospedai-vos aí, até que vos retireis.
E, quando entrardes nalguma casa, saudai-a;
E, se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz.
E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés.
Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.

Mateus 10:11-15

Aquele que julga também deve ser uma pessoa moralmente digna; Caso contrário, ela estará desqualificada para fazer qualquer julgamento em coerência:

Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo.
E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem.
E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus?
Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?
Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus;
O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber:
A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção;
Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade;

Romanos 2:1-8

Este versículo de Romanos deve ser bem contemplado, pois ele fala especificamente de duas realidades distintas, que podem ser confundidas facilmente.

A primeira realidade e a mais óbvia, é a da hipocrisia, de alguém que comete determinado pecado, querer que os outros sejam julgados por pecados que ele também comete, e haver aqui uma medida presunçosa em que um pecador tem discernimento para detectar falhas nos outros, mas não tem discernimento para se enquadrar a si primeiro no Juízo que faz.

A segunda realidade é que este versículo não serve para os ímpios justificarem que só porque alguém é pecador, não pode falar sobre pecados que também são a sua fraqueza. Por exemplo, um ex-toxicodependente pode estar a lutar contra o seu pecado do vício de drogas, e deparar-se com um amigo que está a cair no mesmo erro, e por isso se achega a ele num momento de auto-controle e discernimento e apela à consciência do outro para os perigos da sua prática. Ninguém melhor que ele sabe sobre os perigos em questão, pois ele também luta contra eles, e sabe as suas repercurssões. agora a questão é: Tem ele legitimidade para alertar o outro? Sim! Ele não tem legitimidade para condenar, mas tem legitimidade para alertar, e nisto se revela a verdadeira intenção do coração.

Alertar e condenar, são duas práticas bem distintas, e devem ser bem compreendidas. Nós temos toda a legitimidade para alertar os outros, até para pecados que são nossa fraqueza, mas não temos nunca legitimidade para condenar, pois somos todos pecadores.

"A mesma medida com que seremos julgados" de Mateus 7 refere-se sobretudo á condição do coração, ou seja, à intenção do coração no Juízo.

Convém salientar que julgar a alguém não pressupõe denegrir, caluniar, desprezar, ou criar mexerico com os pecados dos outros. Este tipo de julgamento para a condenação pela calúnia é completamente anti-bíblico e pode ser conferido na seguinte passagem:

Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz.
Há só um legislador que pode salvar e destruir. Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?

Tiago 4:11,12

Contudo não é por isso que não podemos julgar abertamente comportamentos reprováveis, com o medo de sermos entendidos como mexeriqueiros. Se determinado pecado continua sendo cometido, ou se algum erro é propagado sem ser confrontado, então devemos não abafar o erro, não falando nele, mas ao contrário, não o deixar cair no esquecimento, ou na área de conforto da pessoa em questão, pois sabemos bem que grandes avalanches, começam com pequenas pedrinhas inofensivas.

Nós devemos julgar as pessoas, e condenar o pecado, mas não o pecador, pois esse é o papel do Justo Juíz (que por razões óbvias, não é nenhum de nós).

Em Mateus é descrito a forma como Jesus lida com o fraco homem pecador na seguinte afirmação:

Não esmagará a cana quebrada,e não apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar o juízo;
Mateus 12:20

 

Jesus é misericordioso porque Ele não veio primeiramente para condenar o mundo, mas para Salvá-lo.

Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
João 3:17

 

Nem mesmo o arcanjo Miguel fez acusações injuriosas contra Satanás;

Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda.
Judas 1:9

A disciplina eclesiástica ou a condenação de alguém são eventos que devem despertar em nós tristeza e pesar, e não mexericos ou prazer. Se vemos que alguém está a desviar-se do Evangelho ou a pregar heresias, ou se emiscuindo com o mundo, o nosso objectivo principal deve ser conduzir o pecador ao arrependimento e à consciencialização do erro. Caso a disciplina seja indispensável, ela deve ser feita com seriedade, amor e compaixão, sempre objetivando o arrependimento, e não a condenação eterna do pecador. E com muito temor imparcialidade e responsabilidade também, afinal, não somos pessoas perfeitas e ninguém deve ser julgado ou condenado injustamente com 2 pesos e 2 medidas.

Não cometereis injustiça no juízo, nem na vara, nem no peso, nem na medida.
Levítico 19:35

O objectivo da repreensão no Juízo de um verdadeiro Cristão é sempre o da integração, da edificação e da Restauração de alguém na Santidade, que é o nosso maior compromisso, Tendo a Bíblia como nosso manual de comportamento, conduta e carácter, e Jesus Cristo como nosso exemplo máximo de Perfeição.

Julgar os outros é um exercício que toda a gente levanta a mão para ter a sua vez, mas ninguém se coloca a jeito para ser julgado. Se você quer saber se alguém tem legitimidade Espiritual para julgar a sua vida, seus ideiais, e suas decisões, é na Bíblia que vai encontrar os fundamentos reais do Juízo Cristão. 

 

-Lembre-se contudo; Se a Bíblia não te pode questionar, você está fazendo certamente coisas questionáveis!

Jesus Cristo é o único Salvador. Ora vem Senhor Jesus. Maranatha.

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