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falar em línguas

Ter O Espírito Santo é ter O Espírito da Verdade; Então sendo assim, a acção natural do Espírito de Deus habitando no templo interior de cada crente (1 Coríntios 3:16) (1 Coríntios 6:19) ensina a cada crente segundo o mesmo princípio de edificação e santificação, conduzindo o salvo na Verdade.

Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.
João 16:13

Falar das coisas de Deus a verdadeiros filhos de Deus, sempre é de fácil comunicação, porque todos "falamos sabedoria entre os perfeitos" (1 Coríntios 2:6) segundo a mente de Cristo (1 Coríntios 2:16);

Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro.

1 João 4:6

Este tema é um tema controverso e polémico e sempre causa divisão e confronto entre pessoas de posições opostas, e isto porque quem está a favor, e quem está contra, um haverá de estar certo na Palavra, e o outro errado. Então aqui está uma guerra espiritual entre a verdade e o engano que é muito maior do que a oposição das opiniões humanas; É uma guerra entre o bem e o mal; Deus e o Diabo.

Como é óbvio ninguém é detentor de verdades absolutas, senão a Palavra de Deus, pois é lá que reside a Verdade completa sobre o Deus dos absolutos. É somente lá e não em nós que a Verdade se prova incontestável. 

Ninguém é infalível em doutrinas, ou em qualquer outra coisa, porque a Bíblia está repleta de centenas de Doutrinas umas mais fáceis de entender do que outras, e sua complexidade muitas vezes depende somente de estudo pormenorizado e de confronto sincero, tendo como base a mente de Deus e a direcção do Santo Espírito.

Às vezes para sair do erro, basta um confronto saudável de troca de ideias, centrado na Palavra de Deus, e se realmente de ambos os lados, existem homens de Deus genuínos, a sabedoria e Verdade de Deus elucidará as mentes e corações.

Estar em erro não faz de ninguém menos crente, contudo, permanecer no erro contestando a verdade das Escrituras resistindo ao Espírito de Verdade que em nós opera não é postura de crente, e aí sim há legitimidade para reconhecer alguém como "Não convertido".

DEUS É UM DEUS DE ORDEM

Por isso Paulo atesta: "Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido." (1 Coríntios 2:14,15)

As "línguas estranhas" ninguém discerne, o que determina a primeira evidência de que elas não são processos de sabedoria "comunicável". O próprio termo "estranho" é oposto a "discernido";

Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.

1 Coríntios 14:33

 

Na Bíblia quando Deus abre canais de comunicação aos homens para abençoá-los, Ele quer ordem para que o que é comunicado seja comunicável (Seja entendido):

Então o Senhor me respondeu, e disse: Escreve a visão e torna-a bem legível sobre tábuas, para que a possa ler quem passa correndo.
Habacuque 2:2

Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz.
Salmos 19:3

Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas palavras; porque conforme ao teor destas palavras tenho feito aliança contigo e com Israel.
Êxodo 34:27

Quando Deus fecha os canais da comunicação aos Homens é que ELE age de forma a confundir, sendo a confusão uma forma de punição:

Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra, e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra."

Gênesis 11:6-9

E ele disse: A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam.
Lucas 8:10

O melhor deles é como um espinho; o mais reto é pior do que a sebe de espinhos; veio o dia dos teus vigias, veio o dia da tua punição; agora será a sua confusão.
Miquéias 7:4

Não me deixes confundido, Senhor, porque te tenho invocado. Deixa confundidos os ímpios, e emudeçam na sepultura.
Salmos 31:17

Não há um único relato na Bíblia de alguém a falar "em língua estranha" que ninguém percebesse o que estava a ser dito (nem mesmo aquele que a proferia);

Não há nenhum excerto da Bíblia que descreva de forma coerente o uso aplicável de uma língua estranha que sirva o propósito de glorificar a Deus.

Toda a Bíblia reflecte bem que dar Glória a Deus deve ser um processo voluntário consciente, de bom testemunho, de forma reverente, coerente e ordenada, expressada através da comunicação natural; Seja em obras, dons práticos exercidos, oração, salmos, hinos, cânticos, pregação ou testemunho. 

Deus causa confusão aos que Ele despreza, porque ELE não Se agrada da confusão; Ele causa a confusão de modo a punir a anarquia e a rebelião. 

Desordem, incoerência, emocionalismo desenfreado, superstição envolvida em sobrenaturalidade, barulho, não fazem parte da vida activa saudável da Igreja e não podem de modo algum agradar a Deus, que é um Deus de ordem e não de confusão (1 Coríntios 14:33).

 

2 evidências práticas e óbvias que falar em Línguas estranhas desconhecidas, não tem a assinatura do Espírito Santo são:

 

  • -A primeira prova inegável, de milhões de crentes bíblicos, de sã doutrina, firmes na Palavra, convertidos, que nunca experimentaram nem praticam na sua vida diária de intimidade com Deus essa "experiência".

 

  • -A Outra prova evidente é que nas demonstrações públicas destas práticas, não existe coerência observável que denuncie qualquer estrutura linguística, na diversidade das pessoas que a exibem.

Quando as pessoas exibem estas práticas, existe uma disparidade fonética absurda do ponto de vista linguístico. Línguas obedecem a estrutura e ordem, e são usadas na mecânica da comunicação com método.

Qualquer língua falada tem como propósito comunicar, desta forma obedecendo a uma estrutura base como um "alfabeto" e "gramática"; O estudo científico da linguagem, em qualquer um de seus sentidos, é chamado de linguística, que é um método sistemático complexo de estímulos que visam a passagem de informação comunicável, que se pode estudar pela observância.

Mesmo que a linguagem seja sobrenatural, ou seja "linguagem de anjos" como muitos equivocadamente defendem, ainda assim deve respeitar os mesmos princípios (Afinal a linguagem vem de Deus e não dos homens e o propósito é a comunicação).

Tanto o entendimento das Línguas e a confusão de Línguas vieram de Deus; Ate à Torre de Babel todos falavam uma só língua para que todos pudessem comunicar entre si naturalmente: "Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua" (Gênesis 11:6)

Então todas as línguas diversas, são comunicáveis; Ainda que agora sejam confusas para os que não a falam, ainda assim, a linguagem seja ela qual for, visa uma comunicação ordenada, e não somente a pronúncia incoerente e desordenada de sons e palavras. 

No céu não existem várias línguas, nem entre os anjos, nem entre os salvos que lá estão, ou entre Deus e qualquer um dos habitantes dos reinos celestiais; Lá é exactamente como era antes de Babel; Sempre que vemos Anjos na Terra comunicando com os Homens, vemos que eles estão a falar a língua humana perfeitamente, para haver comunicação; A ideia de haver línguas sendo usadas e o propósito não é comunicar, não fazem sentido nenhum, nem têm aplicação prática na Bíblia, nem na vida activa do crente.

 

Ora se falar em Línguas fosse uma manifestação séria e Bíblica que fizesse parte da conversão de um crente, e se o propósito é glorificar a Deus (como alguns defendem) essa experiência seria partilhada por TODOS OS CRENTES, e não somente por uma "minoria" (e sim estatisticamente é mesmo uma pequenina minoria).

Em lado nenhum na Bíblia expressa ainda, que existem dons exclusivos no que diz respeito a glorificar a Deus; os Dons específicos que uns crentes têm e outros não, são dons práticos de serviço e utilidade cristã, e visto que este dom de "falar línguas estranhas" não tem nenhum aplicação prática, senão "glorificar a Deus", então faria sentido fazer parte da experiência comum de todos os crentes, e não somente de alguns. 

-Então porque razão não há sintonia nem uma visível estrutura na semelhança das manifestações públicas observáveis destas pessoas que denuncie princípios reconhecíveis de linguagem?

 

-Porque razão todas estas expressões públicas de "falar em línguas" sempre se assemelham a uma repetição confusa de sons estranhos repetitivos sem nexo e que em nada se assemelham umas às outras como componentes da mesma língua?

OS ANJOS FALAM VÁRIAS LÍNGUAS?

 

Dizer que os "anjos" falam várias línguas para justificar a disparidade fonética sem sincronia também não faz sentido, pois nas esferas celestiais todos fazem parte de uma mesma família, criadas pelo mesmo Deus de modo a comunicarem facilmente entre si.

Até na terra, o propósito era uma mesma língua, não fosse por causa da rebeldia dos homens, a razão pela qual Deus decide criar múltiplas línguas e isto somente com a intenção de confundir e dispersar os homens.

 

A CONFUSÃO DE LÍNGUAS É CASTIGO E NÃO BÊNÇÃO

Em Génesis vemos que a criação de múltiplas línguas na terra como idiomas não veio de um processo natural, mas de uma intervenção Divina, e o propósito também ali era prático e funcional. A função da criação de diversas Línguas da parte de Deus era uma punição ao Homem por causa da sua rebelião; Por isso atribuir a uma linguagem estranha e confusa, um aspecto positivo como vindo de Deus, não tem sintonia com a mente de Deus na narrativa bíblica.

Os Homens em Génesis estavam a criar ajuntamentos num tom desafiante, dizendo "Façamos para nós um nome" (Gênesis 11:4) de forma a que sua intenção era fortalecida na comunicação pelo ajuntamento. Assim sendo, Deus intervém, dispersando-os através da divisão de idiomas, pela qual, os homens não se entendendo foram espalhados depois pela face de toda a terra seguindo aqueles a quem entendiam. Aqui Língua é idioma, e o princípio é o mesmo para 1 Coríntios 14.

 

Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.
Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.

Gênesis 11:7,8

Tendo em conta este cenário, e comparando 1 Coríntios 14 com Génesis 11 fica mais fácil perceber que O mesmo Deus que dispersou as pessoas na rebelião, é O mesmo que quer agora ajuntá-las na conversão.

Aliás a História de Babel de Génesis 11 é um factor importante para entender o propósito das Línguas como Dons, tanto em 1 Coríntios 14 como em Actos 2.

Se na Antiguidade Deus usou as Línguas para dispersar os Homens em Babel por causa da Sua rebelião, agora em Pentecostes, aproxima os Homens por meio das Línguas que criou.

Numa situação os Homens são recebem castigo por meio do pecado, na outra bênção por meio da Graça.

Na ocasião desta festa Judaica, muitos estrangeiros vinham a Jerusalém e era o cenário ideal para que fossem evangelizados nas suas línguas, de modo a que entendessem perfeitamente a mensagem da Cruz, de modo a que quando partissem, levassem consigo o Evangelho para divulgá-lo nas suas regiões.

Esta foi a forma que aprouve a Deus difundir rapidamente as Boas novas da Salvação aos perdidos, tornando inúteis as tentativas do Diabo de impedir a propagação do Evangelho.

A introdução das Línguas no novo testamento, tem o único propósito de dar testemunho da obra da Cruz, da Salvação, do perdão pela Graça, e da transformação que O Espírito Santo opera naqueles que chama e salva.

O Dom das línguas portanto é funcional e estratégico nas escrituras, marcando uma era particular de oposição à mensagem da Cruz tanto por parte dos Judeus incrédulos como do império Romano. 

 

DEUS QUER COMUNICAÇÃO ENTRE OS SANTOS NA CONVERSÃO

Da mesma forma como O Espírito de Deus confundiu os homens na Torre de Babel através de línguas que eram estranhas uns para os outros, agora facilita a comunicação entre eles permitindo o domínio sobre as línguas estranhas aproximando-os.

Por isso lemos:

E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.
Atos 2:6

 

Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?
Atos 2:8

Todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.
Atos 2:11

O evento sobrenatural do dom de falar Línguas veio portanto no tempo certo da festa de Pentecostes, onde pessoas de todo o lado (os tais povos que foram dispersos na confusão de línguas em Génesis) vinham até Jerusalém e ouviam o Evangelho nas suas próprias línguas.

É maravilhoso ver a ironia poética com que Deus age em todas as Suas obras, e bem lembramos das palavras do Senhor Jesus que dizia em relação à Sua igreja: "E as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mateus 16:18).

Foi a declaração ousada de Pedro: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mateus 16:16), que tinha de ser declarada a todos aqueles estrangeiros em Suas próprias línguas quando lhes era comunicada a grandiosa e gloriosa obra da Cruz. 

O Diabo não teria mais poder algum de calar as bocas daqueles que Deus levantou para anunciar o Seu Evangelho, pois agora não seriam mais somente meia dúzia de Judeus em Israel, mas centenas de pessoas de todas as nacionalidades, partindo para as suas terras com a mensagem da Salvação.

 

Então entendendo bem o contexto das escrituras, as línguas estranhas faladas, não são línguas alheias à realidade humana, mas idiomas que simplesmente dificultavam a comunicação entre aqueles homens, razão porque foi necessária intervenção sobrenatural do Espírito Santo.

 

Línguas pressupõe linguagem, e linguagem comunicação. Este é padrão Bíblico dos textos que vamos passar a descrever.

Os linguistas dividem o estudo da linguagem num determinado número de áreas distintas como:

A fonética - o estudo dos diferentes sons empregados em linguagem;
A fonologia - o estudo dos padrões dos sons básicos de uma língua;
A morfologia - o estudo da estrutura interna das palavras;
A sintaxe - o estudo de como a linguagem combina palavras para formar frases gramaticais;
A semântica - o estudo dos sentidos das frases e das palavras que a integram, podendo ser, por exemplo, formal ou lexical;
A lexicologia - o estudo do conjunto das palavras de um idioma, ramo de estudo que contribui para a lexicografia, área de actuação dedicada à elaboração de dicionários, enciclopédias e outras obras que descrevem o uso ou o sentido do léxico;
A terminologia - estudo que se dedica ao conhecimento e análise dos léxicos especializados das ciências e das técnicas;
A estilística - o estudo do estilo na linguagem;
A pragmática - o estudo de como as oralizações são usadas (literalmente, figurativamente ou de qualquer outra maneira) nos actos comunicativos;
A filologia - o estudo de textos e linguagens antigas; (escrita cuneiforme; línguas mortas; hieróglifos, runas, etc)

 

Por causa destes estudos, e da capacidade da mente Humana de criar línguas e reconhecê-las, é que é possível hoje detectar ou não, se algo que é proferido faz parte de uma estrutura linguística ou se é somente produto de um devaneio psicológico, ou até de pura invenção. 

 

O síndroma de "Histeria em massa" ou "Histeria colectiva", também conhecida por "folie à plusieurs" (do francês, "Loucura de muitos"), é o fenómeno sociopsicológico definido pela manifestação dos mesmos ou semelhantes sintomas histéricos por mais de uma pessoa.

Uma manifestação comum de histeria colectiva ocorre quando um grupo de pessoas acredita que sofre de uma doença ou padecimento semelhante, produzido pela empatia com aquele que primeiro os assume; é criado então um efeito cadeia, que empaticamente é propagado por sugestão psico-emocional.

 

Desta forma o "Falar em línguas" ou também conhecido por "Glossolália" é um fenómeno psicológico e não um dom de linguagem dado por Deus.

Glossolalia (do grego "glóssa" [língua]; + "lalein" [falar]) é um fenómeno de psiquiatria em geral ligado a situações de fervor religioso, em que o indivíduo crê expressar-se numa língua desconhecida, por ele tida como de origem divina.

Muitos estudos psiquiátricos associam inúmeros casos estudados de glossolalia, a delírios religiosos como sintomas de casos de distúrbio bipolar, comum a todos.

Note-se a seguinte citação de William Samarin um linguista na sua obra "Variation and variables in religious glossolalia" após ter analisado este fenómeno em crentes de diversas Nacionalidades distintas:

"A glossolália é uma fala pós balbuciação extemporânea ininteligível, que exibe similaridade fonológica superficial à linguagem, sem ter estrutura sintagmática consistente, e que não é sistematicamente derivada ou relacionada a idiomas conhecidos".

 

AS LÍNGUAS ESTRANHAS SÃO IDIOMAS

 

A sobrenaturalidade do dom de falar línguas estranhas no contexto bíblico é a capacidade de falar idiomas estrangeiros com o propósito de anunciar a Verdade de Deus a todos os homens sem restrição; No contexto histórico, o evento do Pentecostes (Atos 2:1-21)  é o início desta manifestação sobrenatural e vem no seguimento da chegada do Consolador dos Céus (O Espírito Santo) após a partida do Senhor Jesus para junto do Pai.

 

A palavra "glossa" (língua) aparece 50x em 47 versículos; A maioria das vezes aparece exactamente como "língua" como instrumento de comunicação verbal; ou como figura de estilo (metonímia) para expressar a habilidade de falar ou expressar ideias, comunicar, expor em discurso alguma mensagem. Notem-se as seguintes referências: (Marcos 7:32-35) (Lucas 1:64)  (Romanos 3:13) (Romanos 14:11) (Filipenses 2:11) (Tiago 1:26) (Tiago 3:5-8) (1 Pedro 3:10) (1 João 3:18)

 

Todas as vezes que refere em "Língua" no contexto de dom dado Pelo Espírito, como idioma generalizado, usa o termo (GLÔSSÊ) (1 Coríntios 14:2); isto porque não é revelado particularmente que língua é referida, apenas que é uma língua estrangeira, desconhecida àqueles que não a têm como língua mãe. Quando refere particularmente o carácter da Língua o uso do termo passa a ser (DIALEKTÔ) (Atos 22:2), de onde procede a palavra "dialecto"; O termo é acompanhado com a particularidade referente à língua que aparece como: "EBRAIDI DIALEKTÔ" ou "Língua hebraica" no contexto da passagem referida.

A razão porque o termo "Glossa" é usado, não é para dizer que a língua é sobrenatural, mas que a origem do dom de espontaneamente poder falar nessas línguas é que é sobrenaturalmente concedido pelo Espírito Santo, e tem a funcionalidade de servir o anunciar do Evangelho de Deus a todos os estrangeiros.

Por isso o contexto da festa de Pentecostes ser o cenário onde pela primeira vez aqueles homens experimentam este dom particular; A festa de Pentecostes trazia milhões de Judeus de volta a Jerusalém pois é uma das grandes "festas da reunião" do povo Judeu. Por causa daquela movimentação de pessoas, muitos estrangeiros também ali iam por causa do comércio, tirando partido da movimentação de pessoas. O "timing" para espalhar o Evangelho por todo o mundo, em todas as línguas possíveis ali centralizadas, era o grande propósito deste dom ser concedido em primeiro lugar. 

 

Por isso O Senhor Jesus embora tivesse dado aos seus discípulos a grande comissão em (Mateus 28:18-20) Ele havia ainda assim refreado temporariamente os seus discípulos de partirem com esta obra, até que viesse O Espírito Santo para este mesmo fim, conforme a sua promessa (Atos 1:4) (João 14:16).

O Próprio Espírito é que é responsável por esta obra, e é Ele que conduz e dirige os pés daqueles que anunciam a obra, quando Ele assim determina (Atos 16:6-10).

 

ACTOS 2

E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar;
E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados.
E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.
E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.
E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu.
E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.
E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando?
Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?
Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Asia,
E Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos,
Cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.
E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer?
E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto.
Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes: Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.
Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia.
Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel:
E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens terão visões, E os vossos velhos sonharão sonhos;
E também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e profetizarão;
E farei aparecer prodígios em cima, no céu; E sinais em baixo na terra, Sangue, fogo e vapor de fumo.
O sol se converterá em trevas, E a lua em sangue, Antes de chegar o grande e glorioso dia do Senhor;
E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.

Atos 2:1-21

 

O Dom de falar "línguas desconhecidas" (estrangeiras) portanto tem um contexto e um propósito Bíblico prático e funcional; E em nada se assemelha às manifestações erráticas e estranhas da "glossolalia".

O termo "Noutras línguas" (Vs. 4) (HETEROS GLÔSSAIS) não dá nenhuma indicação para percebermos "Línguas" além de "idiomas". "Outras línguas" simplesmente fala de "outros idiomas" sem nenhuma indicação adicional de cunho "angelical" ou "Divino".

Por isso lemos sobre a coerência das "línguas faladas": "Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?" (Atos 2:8) provando que as línguas eram entendidas por outro homens conforme era conveniente. 

As línguas ali faladas não eram "estranhas" pois cada um ouvia a mensagem do Evangelho na sua própria língua (idioma). O Papel do Espírito através deste dom sobrenatural necessário para expandir o Evangelho à escala "internacional" foi metódico, pois era notório que o desejo de matar Jesus e calar os discípulos era o meio que o Diabo intentava para refrear e cessar permanentemente a obra que Jesus havia consumado.

Se não fosse pela intervenção sobrenatural Do Espírito de Deus e do "evento do Pentecostes", teria sido impossível espalhar as Boas notícias a um tão grande número de pessoas para além das conspirações de satanás (Atos 4:15-18). Jesus e O Espírito Santo comunicavam entre Si, por isso tudo foi feito desta forma.

Várias vezes vemos expressamente o termo "Língua" associado expressamente ainda a "idioma" e nacionalidade, para deixar isto bem claro noutras passagens da Bíblia. (Apocalipse 5:9) (Apocalipse 7:9) (Apocalipse 10:11) (Apocalipse 13:7) (Apocalipse 14:6) (Apocalipse 17:15)

Nos versículos 9, 10 e 11 vemos descritas nacionalidades para associar às Línguas que se manifestavam através dos dons espirituais: "Partos; medos; elamitas; Mesopotâmicos; Judeus; Capadócios; Asiáticos; Frígios e Panfílios, Egípcios; Líbios, Cireneus, romanos, Cretenses e árabes". (Atos 2:9-11) Fica bastante óbvio que nacionalidades "Angelicais" não são incluídas ou referidas.

Muitas pessoas parecem propensas a desejar manifestações de "sobrenaturalidade" como forma de sentirem algo de "especial" ou único na sua expressão de espiritualidade. Não há necessária nenhuma expressão sobrenatural exterior, para haver confirmação do poder sobrenatural de Deus agindo interiormente. 

Por isso é comum vermos divisão de pessoas em ambientes pentecostais onde "falar em línguas" parece ser requisito de prova de intimidade com O Espírito Santo. Isto até é contraproducente, pois leva muitas pessoas a "inventarem experiências" para se integrar, ou ainda a afastarem-se totalmente de igrejas por causa da confusão gerada.

Ora o poder sobrenatural de Deus está presente na honra, integridade, na virtude da paz e esperança, na decência, utilidade, moderação, obediência à Palavra, Sujeição e Fé e não carece de nenhuma outra "prova" sobrenatural. "Ver para crer" continua a ser muito comum entre algumas comunidades cristãs onde falta a abundância da Palavra de Deus.

 

BAPTISMO COM O ESPÍRITO SANTO

Esta ideia de que o dom de falar línguas estranhas, como línguas espirituais Divinas, não tem nenhum fundamento bíblico credível devidamente apoiado nas Escrituras, nem tampouco tem bases de experiências reais entre a grande maioria dos crentes bíblicos em todas as eras da Igreja, para ser sustentada.

A associação dessas manifestações sobrenaturais ao Santo Espírito de Deus no Baptismo, é intencionalmente forçada para justificar a origem Divina. 

A origem de toda esta má interpretação das escrituras conduzindo pessoas ao misticismo sobrenatural sobre este conteúdo bíblico é a declaração de João o Baptista dizendo acerca de Jesus: "Ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo." (Mateus 3:11)

-O Espírito Santo- refere-se à lavagem interior operada pela graça derramada, de forma a limpar o templo interior onde O Espírito passa a habitar na conversão de alguém pela Fé em Jesus. Esta pessoa fica marcada sobrenaturalmente por Deus para a Salvação.

-O Fogo- refere-se ao julgamento iminente de Jesus a todos quantos O rejeitarem; Estes serão marcados para o juízo e condenação.

 

O tom com que João diz isto é de consciencialização do peso e autoridade de Jesus, que tanto tem poder para salvar como poder para condenar. Repare-se que antes e depois do versículo 11 referido, o versículo 10 e o 12, ambos falam de "Fogo" no contexto de punição e juízo; note-se:

-"toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo." (Mateus 3:10);

-"e queimará a palha com fogo que nunca se apagará." (Mateus 3:12);
 

Fica bem óbvio que João está a dizer que o Baptismo não é uma brincadeira religiosa, ou um estímulo para as aparências, como pretendiam fazer os fariseus e saduceus. Aqui o "Fogo" não tem nada em comum com essa ideia de "manifestação sobrenatural" que os crentes pentecostais confundem com "unção". Este fogo está associado a purificação (Malaquias 3:2-5) com que Deus estará "limpando a eira"; Só os que estão selados pelo Espírito Santo sobreviverão.

No Episódio do Baptismo do Senhor Jesus por João, é apresentada uma figura sobrenatural da essência do Espírito Santo descendo sobre Jesus (Mateus 3:16) (Marcos 1:10) (Lucas 3:22) de forma a que os nossos olhos carnais pudessem ver a realidade espiritual do que ali se passava. Jesus estava a simbolizar a conversão de um crente, e a entrega do Espírito Santo para o templo interior de forma a capacitar a igreja para a obra que lhe seria confiada assim que Jesus partisse. (Atos 10:38) (João 14:16)

Não é o baptismo de água propriamente que nos dá O Espírito Santo, mas a fé em Jesus e a sujeição a Deus; 

João falou que o baptismo dele era diferente do baptismo de Jesus (Mateus 3:11), mas toda a gente sabe que Jesus não baptizou ninguém. O Baptismo de Jesus é interior, quando Ele nos redime, mediante a Eleição do Pai, e O Selar do Espírito, cujo símbolo semelhante à água baptismal é a graça sendo derramada Pelo Espírito de Deus (João 1:33) lavando-nos de todo o pecado.

Vemos bem isto no episódio de Pedro pregando em que vários homens se converteram ao ouvir o Evangelho pregado, e só depois é que o baptismo nas águas ocorreu.

E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra.
E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios.
Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus.
Respondeu, então, Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo?
E mandou que fossem batizados em nome do Senhor. Então rogaram-lhe que ficasse com eles por alguns dias.

Atos 10:44-48

Aqui é bem evidente que aqueles homens foram "baptizados em nome do Senhor" (e não baptizados "no Espírito Santo" como se isso fosse algum baptismo real extra à conversão)

-Só existem 2 baptismos bíblicos referidos e bem claros:

-"O Baptismo com O Espírito Santo", que se refere à conversão operada pela fé em Jesus, através da graça que é derramada interiormente, pela qual O Espírito de Deus habita no templo interior.

-O Baptismo de imersão nas águas", que é uma ordenança que segue a conversão, para o testemunho público simbólico do "nascer de novo" ocorrido na conversão.

Em nenhum destes casos "O baptismo" particularmente faz pessoas desatarem a falar línguas sobrenaturais e estranhas de cunho "Divino";

"O falar em línguas" (Idiomas) que observamos como fenómeno sobrenatural é a capacitação dada Pelo Espírito na Conversão, e teve um papel único entre aqueles homens de forma a espalhar drasticamente o Evangelho de forma a que a acção humana não o pudesse conter.

Como aconteceu nos relatos da igreja em Actos e hoje não acontece mais, está a manifestação sobrenatural que precedeu o derramar do dom de falar línguas. Como se lê: "foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles" (Atos 2:3); Todos já vimos imensas pessoas a supostamente "falar em línguas", contudo nunca foi registado em momento algum de forma visível aquilo que foi registado no livro de Actos. As línguas de fogo, assim como "A pomba" no baptismo de Jesus ocorreram uma única vez, para indicar que aqueles eram episódios restritos àquela era, concernentes somente àquelas pessoas, por causa da necessidade prática de explodir o Evangelho e registar o poder sobrenatural de Deus capacitando a Igreja.

-Porquê que isto não acontece mais, quando alguém se baptiza, ou se converte, se a manifestação é supostamente idêntica? (Para bom entendedor, meia palavra basta)

SINAIS SOBRENATURAIS

 

Após a conversão dos Apóstolos e dos primeiros crentes da Igreja primitiva, o uso e abuso de dons espirituais sobrenaturais abundou para efeitos de testemunho do poder de Deus, tanto entre os Judeus como dos gentios. 

E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios.
Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus.

Atos 10:45,46

 

E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam.
Atos 19:6

 

Realmente, ali sem excepção, muitos homens convertidos eram munidos destas capacidades sobrenaturais, contudo este período foi exacerbado somente durante a propagação inicial do Evangelho por fins de utilidade prática, e para protecção da igreja que ainda estava enfraquecida e vulnerável. Lembremos que o grande objectivo era a preparação e fortalecimento da Igreja para a propagação do Evangelho por todo o mundo, conforme a grande comissão passada pelo Senhor Jesus.

Leia-se:

E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demónios; falarão novas línguas;
Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão.

Marcos 16:17,18

Se convidássemos muitos dos que dizem "falar em línguas" a beber um copo de arsénico ou cianeto, rapidamente eles iriam rejeitar, pois bem sabem, que a graça e o poder de Deus hoje, não impede que pessoas crentes não morram se beberem veneno. Não é que Deus não tenha poder para isso, mas simplesmente que Ele não age mais desta forma sobrenatural nos dias actuais.

Contudo naquela altura, que muitos crentes eram alvos a abater, o uso de serpentes e veneno eram bastante comuns para se assassinar alguém, daí que seja referida esta capacidade sobrenatural no mesmo registo da habilidade de falar vários idiomas. Hoje se a habilidade de beberem veneno e resistir às serpentes não está mais em vigor, da mesma forma também não está o poder sobrenatural de aprender idiomas de um momento para o outro.

 

A vinda de uma nova era de poder sobrenatural visível, e de manifestações de poder semelhantes a estes, virão em breve quando a dispensação da Graça terminar e vier uma nova dispensação na Terra, mas até lá o poder sobrenatural de Deus age interiormente para uma vida de utilidade prática ao serviço do Reino.

O apóstolo Paulo fala que este dom específico de "falar línguas" está associado a sinais proféticos destinados ao povo Judeu, para sacudir a sua mornidão e dureza de coração; Por isso a manifestação sobrenatural ocorrer, já que o povo Judeu tinha imensa dificuldade em ouvir a voz de Deus através dos profetas e obedecer, senão por meio de manifestações de poder daquela natureza.

Leia-se:

Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor.
De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis.

1 Coríntios 14:21,22

 

Aqui Paulo cita a profecia de (Isaías 28:9-14) que lança em rosto do povo a dureza e resistência que "pedia sinais", mas mesmo assim, quando eles eram enviados por Deus não viam nem ouviam. Isaías fala precisamente de idiomas (e não de línguas estranhas divinas) no contexto da invasão dos povos assírios como castigo determinado por Deus para puni-los.
 

A expressão referida por Marcos no Cap.16 portanto: (GLÔSSAIS LALÊSOUSIN KAINAIS) traduzida por "falarão novas línguas", está literalmente a descrever a habilidade de aqueles homens falarem novos idiomas que eles não falavam naturalmente, que através do poder do Espírito lhes era permitido agora conhecer. Isto era o sinal profético que Paulo cita de Isaías.

"Novo" no grego pode ser expressado por 2 termos distintos embora semelhantes: "Neos" e "Kainos" ambos falam de "novo"; "Kainos" fala de "novo na expressão, mas velho na essência", enquanto que "Neos" fala de "novo na origem, e novo em expressão". Desta forma, o termo usado "KAINAIS" não fala de uma língua "nova", como algo de totalmente novo para a comunicação humana como seria de esperar se fossem línguas divinas aqui referidas, mas sim que aqueles homens aprenderam línguas antigas, em regime de novidade (não falavam aqueles idiomas e de um momento para outro passaram a falar).

 

Nós podemos ver claramente pela experiência comum entre os Filhos de Deus, que estes dons já cessaram pois não há nenhum registo credível e coerente de crentes espalhados pelas igrejas do Senhor Jesus pelo mundo que de um momento para o outro passem a falar idiomas estrangeiros sem estudarem. Porque razão isto não acontece mais? Porque a funcionalidade deste dom sobrenatural já não exige a intervenção Divina para que a Verdade de Deus chegue aos Homens. Hoje por acesso à cultura e à tecnologia, até é possível pregar simultaneamente com tradução para várias línguas em directo. A Bíblia foi traduzida para mais de 1200 idiomas, e nos dias modernos, muitos de nós, falam pelo menos 2 a 3 línguas fluentemente fruto da miscelânea cultural. 

O desespero em defender esta teoria de "línguas estranhas" como "Línguas divinas" é tão grande que até a passagem de Romanos 8 foi tirada totalmente fora do contexto para tentar associá-la a esta trama.

ROMANOS 8 

Diz Paulo aos Romanos:

E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis.
Romanos 8:26

"Espírito (Pneuma) Intercede (hyperentynchanei) gemidos (stenagmois) Inexprimíveis (alalētois)

O contexto desta passagem nada tem de "falar em línguas" em momento algum; Fala da necessidade humana, e da providência Divina; das limitações dos homens, e da capacidade intercessora Do Espírito Santo trabalhando directamente com o nosso espírito.

Os "Gemidos" aparecem como uma figura de estilo para falar do desejo de Deus de voltar a restaurar e restituir tudo ao formato de perfeição original e especificamente da nossa restauração e glorificação (Romanos 8:20,21);

O "Gemer" começa a ser associado à natureza da Criação (Vs. 22) depois a nós mesmos como "criaturas" que fazem parte dela (Vs. 23) e só depois ao Espírito Santo (Vs. 26). No grego original fica fácil logo rebater o mau uso desta passagem no contexto de falar em línguas.

O termo "Inexprimíveis" em grego é (alalētois) que literalmente expressa: "Sem proferir quaisquer palavras"; Se O Espírito não usa Palavras, Ele não fala por verbalização oral, mas fala em intercessão interior; trata-se de um gemido, profundo em essência, que é comparado com o nosso "gemer na alma" que anseia pela redenção no âmago do nosso ser interior. Ou seja o que o versículo está a dizer é que embora nós muitas vezes estejamos sem Palavras, nem sequer saber como nos dirigir a Deus no nosso desespero e cansaço espiritual, O Espírito como "Consolador" e "Intercessor" intervém por nós na essência da Trindade.

-Porque razão as pessoas buscam fervorosamente "sinais de poder sobrenatural" então, ao ponto de deturparem os contextos bíblicos?

Porque vivemos numa época de incredulidade, em que as pessoas sem fé, precisam de manifestar ou de sentirem manifestações sobrenaturais para crer e se expressarem espiritualmente; Isto é pura superstição e nada mais. Vivemos num mundo de incredulidade mas saturado de superstição e esoterismo.

Muitas pessoas ditas crentes, ainda, presas na ignorância sem conhecimento Bíblico, sentem-se inferiorizadas por causa de outros crentes exibirem estas características como "dons do Espírito". Naturalmente que aqueles que não as podem reproduzir, sentem o peso e influência da sugestão, movendo-os desesperadamente a desejarem desenvolver esta capacidade, e é daqui que surge o tal efeito de "Histeria em massa". 

 

"Em massa" porém, não significa que este número seja grande, muito pelo contrário como já referido, é um número extremamente reduzido, e somente dentro dos ambientes "pentecostais", que são igualmente círculos onde abunda a ignorância escriturística, má hermenêutica e a propagação de várias aberrações heréticas em tom igualmente duvidoso. Nenhum dos grandes puritanos, homens de fé demonstraram estas capacidades publicamente ou as defenderam; Não vemos nenhum registo comprovável dos Pais da Fé, dentro dos testemunhos Bíblicos e fora deles, a praticarem a glossolalia como vemos hoje pastores na internet a meio de suas mensagens desatar a proferir palavras ininteligíveis como meio de "glorificar a Deus" ou "dar graças". 

A mensagem de (Atos 2:17,18) sobre a profecia de Joel (Joel 2:28) não está ainda em vigor, sendo cumprida apenas nos "últimos dias", nos tempos pós-arrebatamento e dirigida somente ao povo Judeu, portanto não pode ser usada fora do contexto para justificar estas manifestações estranhas.

Se alguém quer glorificar a Deus, e que seu discurso seja entendido, para que outros também o façam, bastava dizer "GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS" que tem o mesmo significado; também procede Do Espírito, e sobretudo não deixa os ouvintes confusos e incrédulos.

Note-se o que diz Paulo sobre isto:

De outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto, o Amém, sobre a tua ação de graças, visto que não sabe o que dizes?
Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado.

1 Coríntios 14:16,17

 

Quais são as outras passagens além de Actos 2 então que podem ser analisadas para se entender a origem do engano e má interpretação dos textos?

Cada contexto será abordado em detalhe para esclarecimento de todas as dúvidas relativamente a esta controvérsia. 

 

1 CORÍNTIOS 12 E 14

1 Coríntios 12 e 14 são os 2 capítulos centrais que associados a Actos 2 produzem toda a espécie de má interpretação sobre o tema de "falar em Línguas".

Talvez por Isso Paulo comece no início do Capítulo 12 da carta aos Coríntios dizendo:

Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.
1 Coríntios 12:1

Muitos crentes verdadeiros e homens tementes a Deus têm caído na cova da má interpretação de alguns textos bíblicos, ainda que de facto sejam homens cheios do Espírito Santo e ensinando boa Doutrina. Ninguém está imune ao erro, e Deus nos mostra isto deixando muitas vezes que grandes homens de Deus tenham o seu "calcanhar de Aquiles", caindo em algum erro contrário às escrituras, de forma a que nos lembremos de olhar para eles também como homens, não incorrendo no engano de os seguirmos em primeiro lugar e não à Palavra de Deus.

 

Primeira coisa a entender então nas Palavras de Paulo aos Coríntios é a referência feita aos dons dados Pelo Espírito:

Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.
E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.
E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.

1 Coríntios 12:4-7

 

Várias perguntas vêm à cabeça quando lemos isto tendo em conta o "falar de línguas" na realidade "pentecostal" actual:

  • -Se o propósito é a utilidade, porque razão há tantas pessoas a "falar línguas estranhas" cuja utilidade particular é nenhuma, e nem uma dessas mesmas pessoas aprende um idioma imediatamente de um momento para o outro para servir a Igreja?

  • -Porque razão visitantes estrangeiros entram nas Igrejas cristãs e os Pastores não são imediatamente capacitados para falarem com eles nas suas próprias línguas?

  • -Onde está a igreja onde as pessoas aprendem idiomas úteis ao receber O Espírito Santo como em Pentecostes (Atos 2:3,4)?

  • -Qual é o cenário mais útil em que um "Pastor" ou "crente" pode servir melhor o reino de Deus? Falando uma língua estranha ou falando múltiplos idiomas?

Toda a diversidade de dons e ministérios vem DO MESMO ESPÍRITO, porque como diz a passagem: "é o mesmo Deus que opera tudo em todos". Diz ainda que O mesmo Espírito "opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer." (1 Coríntios 12:11)

Falando de seguida sobre a variedade de dons dados Pelo Espírito Santo, descreve dons práticos, cuja utilidade serve o propósito de edificar a Igreja e dar testemunho público de fé, e do poder de Deus. 

Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência;
E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;
E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas.

1 Coríntios 12:8-10

 

Desta forma "a variedade de línguas" (GENÊ GLÔSSÔN) e a "interpretação das línguas" (HERMÊNEIA GLÔSSÔN) são dons práticos no mesmo registo dos outros referidos.

O termo "Interpretação" (hermēneia - ἑρμηνεία) deu origem à palavra "Hermenêutica" que num âmbito geral é a filosofia que estuda a teoria da interpretação; não somente de textos escritos, mas também tudo que há no processo interpretativo. Isso inclui formas verbais e não verbais de comunicação, assim como aspectos que afectam a comunicação, como proposições, pressupostos, o significado e a filosofia da linguagem e a semiótica que é o estudo da construção de significado. 

A tradução mais fiel ao termo grego descreve de forma sucinta a Hermenêutica como: "a descodificação do significado de algo comunicado de forma mais ou menos obscurecida para os outros". Assim sendo, trata de ir ao âmago do significado, da construção inicial da ideia passada, de forma a ser recebido no mesmo registo com que foi enviado. Isto no contexto dos idiomas é a disciplina escolar designada por "técnicas de tradução".

Portanto no contexto das "Línguas" como dons do Espírito, o falar em línguas deve ser entendido, primeiro por quem fala, e depois por quem ouve falar; Para isto é necessário que quem fala, interprete; ou que alguém o faça enquanto ele fala; Por esta mesma razão lemos Paulo dizer as seguintes afirmações:

 

Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar.
Há, por exemplo, tanta espécie de vozes no mundo, e nenhuma delas é sem significação.

1 Coríntios 14:9,10

 

E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete.
Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus.

1 Coríntios 14:27,28


"palavras bem inteligíveis" (EUSÊMON LOGON) está bem explícito que o falar em "Línguas" dadas Pelo Espírito, deve ser esclarecido, compreendido, interpretado, e isto novamente com o fim da utilidade para a "edificação da igreja ou de todos os que ouvem" (1 Coríntios 14:5

 

A SOBRENATURALIDADE DO DOM E A CAPACIDADE HUMANA

 

Na descrição de Actos 2, há notoriamente uma ideia passada de manifestação abrupta do poder de Deus que através de uma manifestação visível atraiu muitas pessoas até aos Apóstolos ali reunidos naquele lugar.

Termos como "um vento veemente e impetuoso" e "Cheios do Espírito Santo" (Referindo-se à acção capacitadora sobrenatural do Espírito); e ainda os termos: "Confusos", "pasmados", "maravilhados" (Atos 2:1-8) apontam para uma experiência para além da capacidade humana de processar de um momento para o outro.

Imagine-se alguém que fala algum idioma, pensar na sua língua materna, para depois pensar na tradução para uma outra língua desejada no acto de falar, misturada com um poder sobrenatural que de um momento para o outro capacita alguém a falar múltiplas línguas que nunca aprendeu e processar tanto o acto de pensar como o de falar simultaneamente. Por certo aqueles homens capacitados nem estavam totalmente em controlo daquelas capacidades, sendo movidos pelo Espírito de forma "veemente e impetuosa". Podia haver até confusão na forma como aqueles homens recebiam esse poder, mas sempre havia utilidade associada.

 

Paulo dirigindo-se aos Coríntios parece indicar que embora o dom de "falar línguas" é necessário e bom para a propagação do Evangelho, a capacidade de "profetizar" (1 Coríntios 14:1) (Anunciar as Verdades de Deus) se sobrepõe em utilidade; A não ser que alguém que profetize, também fale em qualquer língua necessária e ainda possa interpretar (1 Coríntios 14:5) sempre visando a utilidade na obra como fim!

Por isso também diz: 

E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas, que vos aproveitaria, se não vos falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da profecia, ou da doutrina?
1 Coríntios 14:6

 

Isto prova que o dom de "falar em línguas" se não tiver utilidade prática, não serve absolutamente para nada. A língua é somente um meio extra de comunicação, e ela deve levar o que é de valor, que é a revelação profética, o conhecimento, e a Doutrina! A língua são meios para um fim, e não o fim de todos os meios. Muitas pessoas que frequentam ambientes pentecostais não descansam enquanto não adquirem a capacidade de "falar em línguas", porque o teor "sobrenatural" associado a elas, lhes parece absolutamente necessário de tal forma que se torna o fim para todos os meios (a origem do devaneio e das falsas experiências começa aqui)

 

Paulo diz:

Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja.
Por isso, o que fala em língua desconhecida, ore para que a possa interpretar.
Porque, se eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto.

1 Coríntios 14:12-14


Se alguém fala em língua que não entende, tanto para si como para outrem, fá-lo sem fruto e benefício. Manifestações sobrenaturais sem utilidade e préstimo, não servem os propósitos de um Deus maravilhoso que opera tudo segundo método, regra, ordem e fundamento.

 

Nesta passagem de 1 Coríntios desde o capítulo 12, ao 13 e de seguida ao 14, existe um contexto e um propósito no discurso contínuo de Paulo. De forma alguma estas são passagens acerca de "dons" ou de "línguas", mas de postura dos crentes, e da união da Igreja para a utilidade e serviço ao Senhor Jesus. Paulo fala de União em Igreja, de serviço e utilidade através de dons, e do amor que deve unir os irmãos habilitados todos trabalhando juntos para a Glória de Deus em serviço prestável e honra. Ele apela para o perigo da cobiça indesejável de dons, e da divisão que isso gera entre o corpo da Igreja de Cristo e acaba o capítulo 14 apelando à ordem e à decência como princípios base de uma vida comunitária entre os crentes. Estes capítulos não tratam o "dom de línguas" como foco central da mensagem de Paulo, nem atestam em momento algum que este dom se refere a falar línguas estranhas de anjos sem função nenhuma de utilidade prática na vida cristã da Igreja, nem tampouco diz que serve o propósito de glorificar a Deus.

  • -No Capitulo 12

Somos introduzidos ao contexto quando Paulo fala dos dons diversos no âmbito do "corpo de Cristo" (A igreja) funcional. A descrição dos dons, fala da entrada na Salvação, e da acção do Espírito Santo agindo na vida singular de cada membro do corpo (1 Coríntios 12:13-21) para a edificação da Igreja como corpo colectivo. De seguida Paulo evidencia que o contexto é o de divisão entre os crentes por causa da distinção dos dons recebidos, em que alguns se tinham por mais importantes do que outros somente tendo em conta a cobiça de certos dons considerados mais nobres que outros.

Paulo logo adverte que todos os membros do corpo têm a sua utilidade, valor e honra (1 Coríntios 12:22-27).

De seguida acaba o capítulo com uma advertência de que nem todos têm de ter os mesmos dons, pois se assim fosse, haveria falta noutras áreas igualmente importantes, ainda que mais desprezadas. Para isto Paulo aponta para o "Zelo" (ZÊLOUTE) para desejarem os "melhores" (MEIZONA) dons, que aqui representam os dons "mais necessários ou com maior utilidade", e não os dons que são considerados mais sobrenaturais ou exclusivos.

O termo "Zelo" aqui está associado a duas posturas distintas, que Paulo no contexto do seu discurso evidencia; O "Zelo indesejável" associado à cobiça e inveja (esse não é o pretendido), mas o "Zelo desejável" que é o esforço de um desejo genuíno para perseguir o que é bom e conveniente.

Ainda hoje, a ideia de "falar em línguas" gera em algumas pessoas que crêem que este é "um dom melhor" (especialmente por causa da conotação sobrenatural que lhe foi equivocadamente associada) um zelo indesejável que promove divisão e inveja. Estranho é nestas mesmas igrejas e ambientes, não se ver ninguém sentir um zelo semelhante para a oração intercessora, a evangelização e apologética. 

  • -No Capítulo 13

Paulo continua seu discurso agora apontando em contraste com a tal "divisão" instalada por causa da cobiça de dons, a importância do amor. Aqui Paulo diz logo no início do capítulo:

 

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

1 Coríntios 13:1,2

De seguida Paulo diz ainda, depois de fazer uma descrição poética detalhada do valor do amor nas obras humanas:

 

O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
1 Coríntios 13:8

 

Novamente é de referir que o contexto deste discurso é "o amor", e não "falar em línguas de homens ou de anjos"; Paulo está a exacerbar seu discurso citando obras impossíveis, ou para além de todos os desejos de grandeza cobiçados pela imaginação do homem em contraste com o amor confuso dos coríntios, que por causa de aquisição de "Dons", estavam a engrandecer uns, e a desprezar outros.

Paulo não está a falar que é possível aos homens falar as "línguas dos anjos", mas que ainda que fosse possível fazê-lo, sem amor de nada serviria a utilidade para a qual fomos chamados. 

Quando lemos: "havendo línguas, cessarão", somos ensinados a contemplar o plano de Deus de na restauração de todas as coisas, tornar a criar uma só língua para todos nós, conforme era antes do episódio da Torre de Babel.

"Falasse as línguas dos homens e dos anjos" (GLÔSSAIS TÔN ANTHRÔPÔN LALÔ KAI TÔN AGGELÔN) precede uma declaração condicional que faz toda a diferença nesta interpretação;

"Ainda que" (EAN TAIS) é uma hipótese em forma de hipérbole e visa descrever um cenário improvável ou impossível apenas sendo considerado para comparação. Está no modo subjuntivo ou optativo que remete para uma incerteza ou dúvida em relação à possibilidade referida. Desta forma "Ainda que", nos diz que Paulo nem acreditava que isso fosse possível, contudo usou um exemplo digno de cobiça para contrastar a inutilidade que seria conquistá-lo sem amor. 

Quando Paulo fala sobre "línguas dos anjos" expressando à priori "ainda que eu falasse", ele está literalmente a dizer que não fala a língua de Anjos. O Apóstolo Paulo que disse noutro momento que "falava mais línguas do que todos os outros" (no contexto dos idiomas) (1 Coríntios 14:18) também diz de forma bem explícita que não fala a língua dos anjos. 

E hoje temos igrejas cheias de pessoas que professam ter recebido o dom de falar "línguas de Anjos". São todos eles maiores que Paulo e mais úteis? Qual a utilidade que ter recebido este dom tem produzido para a edificação da Igreja nos dias actuais? Tudo perguntas pertinentes para as quais ainda não há resposta.

  • -No Capítulo 14

Paulo começa frisando novamente o amor associado ao zelo no que diz respeito aos dons espirituais e toda a mensagem deste capítulo está centrada na ordem e edificação da Igreja reunida.

Aqui existe também outro versículo que é também atropelado pela má hermenêutica, de forma a servir a conveniência de quem quer defender "falar em línguas" como uma prática sobrenatural de linguagem divina.

 

Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.
1 Coríntios 14:2


(No grego original)

[14,2] O GAR LALÔN GLÔSSÊ OUK ANTHRÔPOIS, LALEI ALLA THEÔ; OUDEIS GAR AKOUEI, PNEUMATI DE LALEI MUSTÊRIA.

 

"Porque" (GAR) é um termo explicativo, na sequência da ideia de que "falar em línguas" por si só como obra sobrenatural não tem utilidade nenhuma, se tanto aquele que fala como aquele que ouve não entendem do que é expresso. É comum ouvir-se de pessoas referindo-se ao entendimento de qualquer língua estrangeira de difícil compreensão, dizer-se: "Para mim ele está a falar chinês" (Seja qual for a língua falada e não entendida) e isto porque "Chinês" é considerado pela maioria das pessoas como uma língua estranha e confusa.

Paulo aqui está a passar a ideia de que se alguém fala um idioma desconhecido, apenas com a pretensão de o poder fazer, mas se ele não pode entender e interpretar, nem a pessoa que o ouve, então, só Deus pode entender, pois Deus domina todas as línguas, e conhece todos os pensamentos. Para Deus não há "chinês" ou "Russo" ou "Português", portanto para os homens que não detêm esse poder, o dom do Espírito de falar idiomas estrangeiros é mistério tanto para o que fala como para o que ouve. É como falar "chinês" para quem nada entende do que está a ser dito!

A palavra grega "entende" (AKOUEI) fala de compreensão profunda para decifrar uma mensagem no mesmo registo que é difundida; Portanto só Deus pode entender aquilo que ao homem está vedado entender.

Desta forma, falar em línguas deve ser igualmente acompanhado com a capacidade de interpretar que Paulo associa (1 Coríntios 14:12-14) para que como ele mesmo diz "não fique alguém falando para o ar" (e só Deus entenda).

O dom de Línguas está associado à edificação da Igreja e não à glorificação a Deus. Tentar defender esta teoria não tem nenhuma base bíblica.

Quando Paulo fala da importância da interpretação ele diz:

Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar.
Há, por exemplo, tanta espécie de vozes no mundo, e nenhuma delas é sem significação.

1 Coríntios 14:9,10

 

"Tanta espécie de vozes no mundo" (TOSAUTA EI TUKHOI GENÊ PHÔNÔN EISIN EN KOSMÔ) fala de "Vozes" (phōnōn) como "Sons linguísticos" ou "Dialectos"; Deste termo procede a palavra "fonética" que é o ramo da Linguística que estuda os sons produzidos pela fala humana. Mas repare-se no que diz logo de seguida: "nenhuma delas é sem significação" (OUDEN APHÔNON) ou "Ausentes de sentido intencionalmente destinado ao entendimento".

 

O versículo seguinte fecha este raciocínio perfeitamente:

Mas, se eu ignorar o sentido da voz, serei bárbaro para aquele a quem falo, e o que fala será bárbaro para mim.
1 Coríntios 14:11

 

Toda a manifestação de "falar línguas" que não serve nenhum propósito prático de utilidade, e que seja acompanhado de tradução ou interpretação adequada, só serve para criar confusão e assemelhar-se a barbaridade. A referência a "bárbaro" também atesta para "Idiomas", pois os bárbaros eram todos aqueles que não falavam a língua dos Judeus, de outras nacionalidades.

A ideia de alguém ouvir outro "falar em língua estranha" que é impossível de entender só nos remete para o cenário de "loucura" ou de "ridículo" conforme Paulo advertiu aos Coríntios (1 Coríntios 14:23). A Bíblia nos ensina a evitar os escândalos, tanto os produzidos pelos outros, mas muito principalmente dos que procedem de nós, porque por eles vem a perda de credibilidade e honra.

Não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado;
2 Coríntios 6:3

 

O propósito deste estudo não é diminuir nenhum crente que participe destas manifestações estranhas, nem agir de forma a desprezar experiências pessoais de ninguém, mas esclarecer que para um crente Bíblico, as experiências pessoais não determinam Verdades religiosas, mas somente a Palavra de Deus. Experiências pessoais podem ser tendenciosas, adulteradas, manipuladas não só por nós mesmos por meio de pretensões de um coração enganoso, por outros através da natureza empática e social, e até em alguns casos por influência e possessão demoníaca. Nem todas as manifestações sobrenaturais têm "origem em Deus", de tal forma, que caso a caso, seja até possível que se encontrem pessoas demonstrando sobrenaturalidade através do poder do Diabo que como diz na Palavra, "Se transfigura em Anjo de Luz". (2 Coríntios 11:14)

Que todos os Filhos de Deus de alguma forma equivocados nesta prática sem fundamento bíblico, possam desprender-se, como muitos o têm feito, e testemunhado dessa experiência enganosa à qual estavam presos, sendo libertos da confusão para uma adoração e serviço úteis em toda a paz, singeleza e virtude do Espírito Santo para Glória do nosso Senhor Jesus Cristo, e de Deus Pai. 

 

No final da sua meditação sobre esta temática, que ecoe até às profundezas da sua consciência a noção de que:

Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.
1 Coríntios 14:33

Maranatha! 

Jesus Cristo é o único Salvador. Ora vem Senhor Jesus. Maranatha.

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