
CAPÍTULO 26 – (35 Versículos)
ISAQUE REVIVE A HISTÓRIA DE ABRAÃO COMO SUCESSOR -vs 1 a 25
A ALIANÇA DE ISAQUE COM ABIMELEQUE -vs 26 a 31
AS MULHERES DE ESAÚ SÃO UM PESO DE AMARGURA – 34 a 35
Logo no início deste capítulo comprova-se que o capítulo 25 anterior está em registo anacrónico, pois, o final do capítulo anterior revela o nascimento de Jacó e Esaú, porém neste capítulo eles ainda não existem, e isso é evidente no facto de Rebeca se fazer passar por irmã de Isaque de forma convincente, o que seria difícil se ela estivesse a amamentar 2 bebés.
A passagem do passado ao futuro no relato da narrativa bíblica, serve o propósito de revelar os desígnios de Deus maior atravessando o tempo, de forma a revelar um plano eterno maior, que se vai cumprindo profeticamente.
Passado e Futuro encontram-se sempre no Presente, quando a narrativa nos dá lições de como devemos agir diante de Deus, e também de como Deus age mediante as nossas decisões.
Conceitos como Liberdade de consciência, livre-arbítrio, predestinação, eleição, soberania Divina e responsabilidade humana estão associados e entrelaçados num plano Divino decretado na eternidade.
Agora a narrativa torna a repetir eventos associando a vida de Abraão e Isaque, e isto para se perceber a passagem da Aliança de Deus à descendência de Abraão, evidenciando Isaque como seu legítimo sucessor.
A Aliança feita a Abraão em (Gênesis 12:2,3) passa para Isaque em (Gênesis 26:3,4) e mais tarde para Jacó (Gênesis 28:3,4).
As provações e episódios semelhantes, são uma constatação da presença de Deus nas suas vidas, e levam-nos a contemplar a ideia que debaixo da direcção de Deus a história dos homens sempre se repete; As mesmas provações levam aos mesmos erros.
Se não fosse pela direcção de Deus a conduzir os Homens, tirando-os dos seus caminhos condenados à repetição do erro, todos estavam perdidos.
Sabendo isto mesmo, o rei David diz: “O Senhor aperfeiçoará o que me toca; a tua benignidade, ó Senhor, dura para sempre; não desampares as obras das tuas mãos.” (Salmos 138:8)
Tudo o que Deus determina e afirma dando a Sua Palavra, seja em Aliança, promessas, profecias, assim acontece, para que saibamos que somente Ele tem nas mãos o destino de cada um: “Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.” (Isaías 55:11)
Sem Aliança, sem a intervenção de Deus, e sem Sua Graça, o Homem ainda que se passassem milénios de história, não poderia mudar por si mesmo a sua natureza nem tampouco escapar ao inferno.
DEUS DIRIGE ISAQUE
A forma como a história é conduzida assim o comprova, e aqui neste capítulo vemos que “havia fome na terra” (Gênesis 26:1) como uma provação, exactamente como havia acontecido com Abraão seu pai no início da sua jornada (Gênesis 12:10).
Nos versículos 3 a 5, O Senhor reafirma a Sua Aliança com Isaque como havia feito com Abraão várias vezes (Gênesis 22:18), associando a obediência à Bênção referida na promessa (Gênesis 26:5).
Porém, a diferença aqui agora é que Deus intervém para impedir Isaque de descer ao Egipto como seu pai, e o dirige para peregrinar em Gerar (Gênesis 26:2), terra de Abimeleque, onde Abraão viveu um episódio que Isaque ia agora repetir (Gênesis 20:1,2).
Este rei dos Filisteus tem o mesmo nome, mas é agora o filho do Rei Abimeleque com quem Abraão teve um percalço envolvendo Sara (Gênesis 20:2-10); Assim sendo, ambos os filhos de cada um aparecem aqui envolvidos numa trama semelhante aos seus pais (Gênesis 26:7-11).
Isaque então habita em Gerar (Gênesis 26:6) exactamente como seu pai também o fez (Gênesis 20:1).
À semelhança de Abraão (Gênesis 12:11-13), nos versículos 7 a 11 vemos que Isaque também mente acerca de Rebeca ser sua mulher, fazendo-a passar por irmã.
O Rei Abimeleque filho, teve a mesma reação que seu pai teve em relação a Abraão e Sara, repreendendo Isaque por aquilo que fez (Gênesis 26:10) mas agora vemos que Isaque não é expulso, mas pelo contrário fica ali debaixo da protecção do rei prosperando (Gênesis 26:11).
Ainda que haja semelhanças com os eventos antigos, novos detalhes surgem agora na história de Isaque em contraste aos episódios de seu pai, para que vejamos uma evolução na intervenção e condução de Deus.
Por exemplo, Deus não impediu Abraão de descer ao Egipto (Gênesis 12:10,11), mas agora impede Isaque (Gênesis 26:2); Deus permite que Abraão seja expulso (Gênesis 12:19,20), mas agora retém Isaque ali em Gerar (Gênesis 26:12);
Portanto há medida que o tempo passa, a intervenção divina começa a ser mais evidente, para demonstrar mais e mais a fidelidade de Deus à Sua Aliança e o Seu óbvio domínio soberano.
Nos versículos 12 a 14, vemos então essa prosperidade aumentar debaixo do favor de Deus através da protecção do rei Abimeleque.
A referência de que Isaque colheu “100 medidas” (Gênesis 26:12) tem um forte simbolismo associado ao número 100 que representa na Bíblia o “pagamento devido” ou “cumprimento de dívida”.
Como Deus havia associado a obediência à Bênção (Gênesis 26:5), e Isaque havia obedecido não indo para o Egipto como seu pai, seguindo para Gerar conforme a direcção de Deus, é agora importante tornar evidente que Deus cumpre suas promessas, premiando a obediência com prosperidade.
Vemos nos versículos 16 e 17 que por causa desta bênção, Isaque começava a adquirir um certo estatuto semelhante ao de seu pai por aquela região, razão pela qual o rei Abimeleque lhe pede para ele se apartar deles ali temendo algum conflito.
A peregrinação de Isaque à semelhança de seu pai começa agora a ser evidente, e saindo de Gerar acampa nos arredores, num vale, onde é relatado dos versículos 18 ao 22 um episódio curioso sobre 3 poços.
OS 3 POÇOS NO VALE DE GERAR
No versículo 18 portanto são referidos alguns poços que Abraão tinha cavado no tempo em que ele mesmo passou por ali pela região, e que agora os filisteus tinham entulhado. Quando Abraão cavou o primeiro poço ali, e os filisteus o tomaram, Abimeleque sabendo disto o restitui num pacto de não agressão (Gênesis 21:30).
Então Isaque tinha direito àqueles poços segundo o pacto do falecido Rei Abimeleque, pai do rei que agora reinava.
A passagem refere um 1º poço no versículo 19, que causou conflito entre os pastores de Isaque e os pastores filisteus, pelo qual ficou chamado de “Eseque” (ESEQ) que literalmente se traduz por “disputa ou contenda” (Gênesis 26:20);
É referido então que Isaque cavou um 2º poço no versículo 21, que causou o mesmo problema entre os pastores, sendo chamado de “Sitna” (SITËNÅH) que é traduzido como “ódio acusador, ou inimizade” que curiosamente é a raíz da palavra Hebraica para Satanás. (Gênesis 26:21)
No 3º poço descrito no versículo 22, não houve mais contenda, por isso se chamou “Reobote” (RËCHOVOT) que se traduz por “Largo ou Amplo”, e por causa disto Isaque diz: “Porque agora nos alargou o Senhor, e crescemos nesta terra.” (Gênesis 26:22).
-O que é que este episódio dos 3 poços nos ensina?
Isaque podia ceder ao conflito causado pelos pastores filisteus sentindo-se no direito de retomar aqueles poços cedidos a seu pai pelo falecido Rei, contudo, fazendo-o podia causar problemas de confronto entre o rei que agora ali reinava, e o povo filisteu que “o invejava” (Gênesis 26:14).
Isaque mostrando sabedoria, resiste às investidas de satanás de disputa, contenda e inimizade dirigidas a si pelos pastores filisteus, e prossegue, até que fica evidente que satanás deixa de o tentar, demonstrado no silêncio dos pastores filisteus que cessam a sua disputa com ele.
Por isso lemos: “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.” (Tiago 4:7); Ainda que nós encontremos no nosso percurso pessoas invejosas cujo único desejo é tentar-nos com conflitos, ódio e inimizade, nossa postura deve ser de humildade e confiança que Deus nos conduzirá à prosperidade em paz; Diz o sábio livro de provérbios: “O orgulhoso de coração levanta contendas, mas o que confia no Senhor prosperará.” (Provérbios 28:25)
3 poços descritos, remete-nos para o simbolismo do Número 3, da soberania de Deus na acção da Trindade agindo sobre a realidade terrena.
Isaque podia ter causado um grave problema diplomático se tivesse cedido à tentação de Satanás na provocação dos pastores filisteus.
Novamente Deus demonstra que Ele conduz Isaque, por meio de provações, em meio das quais Ele mesmo também providencia o escape, como lemos Paulo dizer aos Coríntios: “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.” (1 Coríntios 10:13)
A partir daqui a narrativa no versículo 23 foca em Isaque partindo para Berseba, seguindo um percurso semelhante ao de seu pai que também por lá havia passado (Gênesis 22:19).
Isaque continua a repetir a história de seu pai, aparecendo-lhe O Senhor reafirmando a Aliança que havia sido feita a Abraão, agora dirigida a ele (Gênesis 26:24).
Após a reafirmação da Aliança, Isaque edifica ali um altar e invoca o nome do Senhor (Gênesis 26:25); Logo de seguida aparece o rei Abimeleque com Ficol o comandante do seu exército que havia também servido a seu pai, e à semelhança do que tinha acontecido com Abraão (Gênesis 21:22-27), ele também reconhece que O Senhor era com Isaque, e quer fazer uma Aliança com ele (Gênesis 26:26-29).
Nos versículos 32 e 33, vemos a origem do nome de Berseba, usado por Moisés na narrativa desde Abraão, percebendo-se que o nome daquele lugar havia sido dado por Isaque nomeando um poço cavado ali.
A referência a este poço aparece assim que ele chega àquele lugar (Gênesis 26:25) mas só agora após a Aliança com Abimeleque é descrito que foi achado ali água (Gênesis 26:32,33);
O nome “Seba” (SHIVËÅH) que Isaque deu àquele poço (Gênesis 26:33) (o 4º poço agora descrito na narrativa) traduz-se por “farto ou saciado”.
O Número 4 simbolicamente aponta para o carácter de alguém por trás de uma obra, ou como uma obra aponta para o carácter de alguém.
Este 4º poço de Berseba agora evidenciado, visa passar a ideia de Isaque ser farto e saciado por Deus em todos os seus dias, até que se cumprisse o seu papel na obra de Deus.
Este poço seria um símbolo da fidelidade de Deus de abençoar Isaque em tudo, à semelhança de seu pai que a bíblia descreve: “Abraão expirou, morrendo em boa velhice, velho e farto de dias” (Gênesis 25:8) tendo “O Senhor o abençoado em tudo” (Gênesis 24:1).
Por isso logo no capítulo a seguir, começa descrevendo Isaque já velho no fim dos seus dias, como que o tempo entre o fim deste capítulo e o início do próximo fosse um tempo onde tanto o carácter de Deus de abençoar, como o carácter obediente de Isaque estivessem andando lado a lado.
Já no final do capítulo nos versículos 34 e 35, é relatado Esaú também da idade de 40 anos, casando-se com 2 mulheres hetéias, para que se contraste o carácter dele com o de Isaque.
Seu casamento com estas 2 mulheres, não agradou seus pais, pois claramente não estava de acordo com a vontade de Deus que já havia sido manifestada por Abraão, quando manda vir de fora daqueles povos uma esposa para seu filho Isaque (Gênesis 24:3,4).
Esaú acabaria por se tornar através da sua descendência com estas mulheres, o pai dos edomitas (Gênesis 36:19), um povo inimigo de Israel (Joel 3:19) (Lamentações 4:22) (Salmos 137:7) (1 Reis 11:14); Ainda tomou outra mulher filha de Ismael, aliando-se a outro povo destinado à contenda, andando contrariamente ao caminho que devia andar (Gênesis 28:8,9) recebendo por isso os títulos de devasso e profano com que mais tarde foi lembrado (Hebreus 12:16).
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