
CAPÍTULO 25 – (34 Versículos)
A DESCENDÊNCIA DE ABRAÃO POR QUETURA -vs 1 a 4
A HERANÇA DE ABRAÃO DADA A ISAQUE -vs 5 e 6
A MORTE E O SEPULTAMENTO DE ABRAÃO -7 a 10
A DESCENDÊNCIA DE ISMAEL –vs 12 a 18
A DESCENDÊNCIA DE ISAQUE EM JACÓ E ESAÚ –vs 19 a 34
Abraão desde a morte de Sara até à sua morte, ainda viveu 38 anos, sendo que Sara morreu aos 127 anos (Gênesis 23:1) e Abraão neste capítulo morre com 175 anos (Gênesis 25:7,8).
Algures no tempo, sem uma data aqui precisa, Abraão toma outra mulher de nome Quetura e com ela produz também descendência (Gênesis 25:2-4).
Esta mulher não seria chamada esposa no mesmo estatuto de Sara, mas concubina como lemos em (1 Crônicas 1:32).
Embora Abraão tivesse tido ainda outros filhos, a escritura é bem clara que o único herdeiro reconhecido de Abraão era Isaque, O filho da promessa, lemos por isso: “Porém Abraão deu tudo o que tinha a Isaque” (Gênesis 25:5).
Isto já era evidente na narrativa quando o servo de Abraão diz à família de Rebeca acerca de Isaque, que Seu senhor “lhe havia dado tudo o que tem” (Gênesis 24:36).
Assim como Abraão deu ao filho Isaque tudo o que ele tinha, Assim também Deus Pai deu a Jesus tudo, como lemos: “O Pai ama O Filho, e todas as coisas entregou nas Suas mãos.” (João 3:35) (João 13:3).
Igualmente vemos que:
-Deus deu ao Filho um Nome que é sobre todo o nome (Filipenses 2:9) (Atos 4:12)
-Deus deu ao Filho todo o poder (Mateus 28:18)
-Deu ao Filho todo o juízo (João 5:22) (João 5:27)
-Deus Pai deu ao Filho toda a autoridade para sujeitar tudo e todos (1 Pedro 3:22)
-Deu ao Filho os Eleitos para a Salvação (João 6:37) (João 6:39) (João 10:29)
Entre Abraão e Isaque, e Deus Pai e O Senhor Jesus, nós vemos uma relação de tom semelhante que visa revelar que os eventos da vida destes homens obedeciam a decretos Divinos para revelar a obra gloriosa que Deus já havia preparado de antemão.
A CRONOLOGIA DOS EVENTOS
Isaque tinha 37 anos quando Sara morre porque sabemos que Abraão era mais velho que Sara 10 anos (Gênesis 17:17); Se na altura da morte de Sara, Abraão tinha 137 anos, e se Isaque nasceu quando Abraão tinha 100 anos (Gênesis 21:5), então Isaque tinha 37 anos de idade na altura que sua mãe morre (Gênesis 23:1).
Neste capítulo de Génesis 25 sabendo que Abraão viveu mais 38 anos após a morte de Sara, calculamos a idade de Isaque tendo 75 anos (37+38 =75) exactamente a mesma idade que Abraão tinha quando recebe de Deus a Bênção (Gênesis 25:11) e se torna protagonista da narrativa bíblica no momento da Aliança de Deus com ele (Gênesis 12:4).
Isto por si só nos indica o início de uma série de simbolismos em Isaque associados a Abraão.
A razão porque Isaque foi designado herdeiro, ainda que não fosse o primogénito de Abraão, é porque Deus assim o tinha determinado pela promessa, de modo a que ele fosse uma figura de Jesus Cristo para o povo de Deus.
A entrada na herança eterna é em Jesus, como Isaque prefigura na antiguidade; Por isso os ismaelitas (descendentes de Ismael) não têm lugar na bênção, ainda que sejam igualmente descendência de Abraão: “Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência. Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho.” (Romanos 9:8,9)
A figura de Isaque como descendência apontando para Cristo, está bem clara nas palavras de Paulo aos Gálatas: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo.” (Gálatas 3:16)
No versículo 7 vemos que Deus permitiu Abraão viver exactamente até cumprir o seu papel no plano divino que continuaria em Isaque.
Ele morreu com o estatuto de estrangeiro e peregrino na terra, esperando pela pátria celestial (Hebreus 11:13-16) para nos dar a nós a mesma esperança que ele tinha pela fé.
Abraão tinha aprendido com Sara o perigo de manter por perto outros filhos alheios à promessa de Deus (Gênesis 21:10), e assim sendo, despede os filhos de Quetura ainda em vida, mandando-os para o oriente (Gênesis 25:6), para que Isaque pudesse tomar posse da sua herança tranquilamente.
Nos versículos 9 e 10 Abraão é sepultado no mesmo lugar que Sara, no terreno comprado “em frente a Manre”, ali naquela mesma região.
Este lugar tinha valor sentimental e profético, e ali Abraão é agora sepultado (Gênesis 25:9,10) assim como Isaque, Rebeca, Lia (Gênesis 49:31) e Jacó (Gênesis 50:13,14) seriam mais tarde.
Este foi afinal o lugar onde O Senhor Jesus apareceu a Abraão e Sara na companhia dos 2 Anjos para reafirmar a promessa do nascimento de Isaque (Gênesis 18:1-10).
ISMAEL E ISAQUE NO ENTERRO DE ABRAÃO
Ismael e Isaque são reunidos aqui na morte de Abraão (Gênesis 25:9) pela primeira vez descrito após a sua separação, quando Agar é despedida com o seu filho (Gênesis 21:14).
A descendência de Ismael é descrita (Gênesis 25:12-15) neste contexto para evidenciar a futura rivalidade entre os 2 povos, e as duas descendências principais vindas de Abraão.
A referência a “12 príncipes” de entre os filhos de Ismael (Gênesis 25:16) conforme a promessa de Deus (Gênesis 17:20) profetiza também da vinda das 12 tribos de Israel por Isaque e sua descendência (Gênesis 49:28) (Êxodo 15:27) (Êxodo 24:4).
A morte de Ismael aqui (Gênesis 25:17) apresenta a ideia da Aliança estar em Isaque, e de ser nele que a história continua mediante o plano de Deus eterno. (Ou seja Ismael passa à história e Isaque continua o plano de Deus)
Após descrever a morte de Abraão, e de Ismael, a narrativa imediatamente coloca Isaque e Rebeca como protagonistas, e a provação destinada a eles no plano eterno começa a ser relatada em detalhes.
É descrito que Isaque “habitava junto ao poço Beer-Laai-Rói.” (Gênesis 25:11), exactamente no lugar entre Cades e Berede no deserto de Berseba (O Neguev) onde Deus aparece a Agar pela primeira vez, fazendo-lhe a promessa de abençoar Ismael (Gênesis 16:14).
Um lugar que está intimamente associado a provação e Bênção, cujo significado traduz-se por: “O poço Daquele que vive e me vê” (Gênesis 16:13).
Isaque está debaixo dos olhos de Deus, e sua vida será usada como a de seu pai, para o cumprimento completo da obra divina.
Dos versículos 19 ao 26 a narrativa bíblica então foca na descendência de Isaque e a provação de Deus para ele revela semelhanças à história de Abraão seu pai.
Por isso é dito que Isaque era da idade de 40 anos quando tomou Rebeca por mulher (Gênesis 25:20).
O Número 40 fala de “preparação, expectativa e mudança”; Este é um número composto que está intimamente ligado ao número 10 e ao número 4.
O Número 10, aponta para “provação para a plenitude”, o Número 4 na bíblia descreve o carácter de alguém por trás de uma obra;
O Número 40 aqui usado como símbolo, aponta portanto para um percurso onde Deus através de uma provação preparada, revela o Seu carácter e desígnios, conduzindo aqueles que Ele chama, e elege ao destino pré-determinado por Ele.
Este número quando aparece na bíblia sempre aparece no contexto de um tempo designado para evidenciar o que vem a seguir.
Bons exemplos deste simbolismo de “Preparação, expectativa e mudança“ associados ao Número 40 são:
Deus fez chover 40 dias e 40 noites nos tempos de Noé (Gênesis 7:4);
Moisés passou 40 dias de jejum no Monte Sinai, a sós com Deus (Êxodo 24:18);
O povo de Israel passou 40 anos em êxodo pelo deserto rumo à Terra Prometida (Números 14:33);
Os Homens enviados por Moisés para espiar a Terra de Canaã, fizeram-no por 40 dias (Números 13:25);
Moisés subiu ao Monte Sinai chamado por Deus para receber as tábuas da Lei, e esteve lá por 40 dias e 40 noites (Êxodo 24:18);
Elias passou 40 dias e 40 noites caminhando até o Monte Horebe (1 Reis 19:8);
Israel viveu 40 anos de paz sob os juízes (Juízes 3:11);
Duraram 40 anos os reinados de Saul (Atos 13:21), Davi (2 Samuel 5:4) e Salomão (1 Reis 11:42) os três primeiros reis de Israel;
Jonas profetizou 40 dias de julgamento para que Nínive se arrependesse (Jonas 3:4);
Jesus foi levado por Maria e José ao templo 40 dias após Seu nascimento (Lucas 2:22,23) (Levítico 12:2-4);
Jesus jejuou durante 40 dias no deserto, onde foi tentado pelo Diabo (Mateus 4:1,2);
Durante 40 dias, Jesus ressuscitado instruiu os discípulos antes de subir ao Céu e enviar O Espírito Santo (Atos 1:3);
Então a provação na vida de Isaque começa descrevendo o facto de Rebeca sua mulher ser estéril à semelhança de Sara sua mãe (Gênesis 11:30).
Isaque já era evidenciado como “um homem de oração” (Gênesis 24:63), de modo a que ficasse evidente que este era um atributo poderoso na sua vida.
Suas orações são apresentadas como a razão pela qual Deus ouvindo-o, a cura dando-lhe o privilégio de conceber (Gênesis 25:21).
JACÓ E ESAÚ
Rebeca então fica grávida de gémeos (Jacó e Esaú) sendo isto mais um passo em direcção à futura Nação de Israel levantada dentre as Nações do mundo.
As descendências deste capítulo de Abraão por Quetura, e por Sara, destacando Isaque e Ismael, Esaú e Jacó estão também detalhadas em 1 Crónicas 1 e 2.
Este capítulo pode tornar-se um pouco confuso se não o considerarmos como um registo anacrónico (que não condiz com a cronologia).
Muitas pessoas têm dificuldade em entender a bíblia porque crêem que tudo o que está escrito segue sempre uma ordem cronológica sequencial, mas isto não é verdade, e pode induzir em graves erros de interpretação.
Por exemplo o momento de Quetura como “mulher” tomada por Abraão, descrito somente neste capítulo não se refere objectivamente a um período pós morte de Sara, embora assim o pareça.
Se assim fosse, Abraão teria de ter tido mais 6 filhos acima dos 140 anos, o que tornaria irrelevante a ênfase dada a Isaque nascendo nos 100 anos da sua velhice (Gênesis 21:5) como um feito sobrenatural.
A razão porque Quetura é referida somente neste capítulo é porque na iminência da morte de Abraão, é importante referir que nem todos os que são filhos de Abraão importam, senão Aquele (Isaque) a quem Deus colocou a promessa à posteridade; Por isso lemos: “Porém Abraão deu tudo o que tinha a Isaque;” (Gênesis 25:5). Neste mesmo registo de pensamento João o Baptista diz aos fariseus: “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mateus 3:9)
Quetura muito provavelmente segundo a opinião de vários estudiosos da bíblia, teria dado filhos a Abraão ainda no tempo em que Sara era viva, mas só são referidos aqui no sentido de mostrar que à semelhança de Ismael, não tinham qualquer direito à herança que estava destinada a Isaque.
Outro detalhe importante que prova que este capítulo está em registo anacrónico é a referência da idade de Isaque de 60 anos quando gerou Jacó e Esaú (Gênesis 25:26).
Como já vimos no tempo da morte de Abraão aos 175 anos, Isaque teria de ter 75 anos, afinal nasceu quando Abraão tinha 100.
Isto leva-nos a concluir que o nascimento de seus filhos ocorreu 15 anos antes da morte de Abraão, embora no capítulo nos pareça que foi posteriormente.
Isaque era da idade de 40 anos quando tomou a Rebeca por mulher conforme vimos em (Gênesis 25:20); Vimos que ela era estéril à semelhança de Sara (Gênesis 11:30) e por causa da sua oração, ele se torna Pai aos 60 anos (Gênesis 25:26)
A narrativa quer evidenciar o período de 20 anos específicos para a provação levar Isaque à oração na dependência de Deus.
Isto para haver uma relação entre a espera de Isaque para a bênção de Deus produzir descendência à semelhança da espera que Abraão também passou até nascer Isaque.
Muito possivelmente desde o início da Aliança de Deus com Abraão aos 75 anos (Gênesis 12:2) até à conversa entre ele e Deus onde a promessa do filho é especificada em mais detalhe (Gênesis 15:2-4), se haviam passado 5 anos.
Quando Abraão faz um filho à escrava haviam passado então outros 5 anos, num total de 10 anos desde o início da Aliança (Gênesis 16:3);
75 anos + 5 anos = 80 anos + 20 de espera até ao nascimento de Isaque aos 100 anos de idade. (Gênesis 21:5)
Exactamente o mesmo tempo de espera de 20 anos, foi necessário para que Abraão e Isaque assegurassem a descendência debaixo da Aliança de Deus.
Abraão esperou dos 80 aos 100 anos, e Isaque dos 40 aos 60 anos.
Também na linha de semelhanças e sintonia entre a História de Abraão e Isaque é o facto de Deus estabelecer a supremacia do filho mais novo sobre o filho primogénito contrário ao costume.
Assim, Isaque tem a preferência sobre Ismael (Gênesis 15:4) (Gênesis 17:21) da mesma forma que Jacó tem a preferência sobre Esaú (Gênesis 25:33) (Gênesis 28:13,14).
Dos versículos 22 ao 28 vemos que desde o ventre, existia uma rivalidade que os separava (Gênesis 25:22) que estava de acordo com os desígnios de Deus.
Jacó seria elevado acima de Esaú, como Isaque foi sobre Ismael; Por isso lemos o que disse O Senhor sobre estes 2 filhos rivais: “E o Senhor lhe disse: Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor.” (Gênesis 25:23)
2 Nações, e 2 Povos divididos é uma referência ao reino de Israel (Reino do Norte) e Judá (o Reino do Sul) divididos futuramente em 2 casas distintas. (1 Reis 12:17-20) (2 Reis 17:18-21)
O reino dividido surgiu após a morte do rei Salomão por causa do clima de tensão e descontentamento causado debaixo do seu governo. Em 930 a.c. Roboão, filho de Salomão, ascendeu ao trono de Israel e então começa a divisão.
Esta divisão ainda que de ordem política numa primeira instância, ela era uma divisão de cariz espiritual com a Eleição de Deus no centro.
A rivalidade desde o ventre causando divisão entre estes 2 irmãos também era da mesma natureza. (A divisão pela Eleição)
Os esforços de Jacó e sua mãe, envolvendo até mentira e oportunismo (Gênesis 27:6-19) não são a causa da sua supremacia em relação a Esaú, mas sim a Eleição de Deus!
No versículo 26 Jacó nasce de “mão agarrada ao calcanhar de Esaú” para indicar logo ali esta natureza de que ele se agarrava para passar por cima de seu irmão. Razão porque lemos: “por isso se chamou o seu nome Jacó” (Gênesis 25:26).
Esta é uma imagem profética dos eventos de mais tarde quando já adulto ele rouba a primogenitura de seu irmão (Gênesis 25:30-33), e engana seu pai para roubar a Bênção (Gênesis 27:18,19) agindo como um “enganador” oportunista.
O próprio nome “Jacó” (YAAQOV de AQAV) tem este significado de “perseguir para enganar ou ludibriar” na tradução literal (Gênesis 27:36).
Mas ainda assim o que a narrativa pretende contrastar é que apesar de todas as tentativas de Jacó, de tomar o lugar de seu irmão por mau carácter, a razão porque ele recebe a preeminência é por causa de QUEM ELEGE, e não porque o Homem se faz eleito a si mesmo.
Como Lemos: “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá ao menor.” (Romanos 9:11,12)
O que é curioso é ver a desobediência de Isaque querendo abençoar Esaú (Gênesis 27:1-4) ainda depois de Deus ter declarado objectivamente que Jacó teria a preeminência sobre Esaú (Gênesis 25:23).
O simbolismo desta persistência mal direcionada aponta para a persistência mal direcionada de Abraão de não confiar na promessa de Deus (Gênesis 15:4), fazendo ele mesmo um filho a Agar (Gênesis 16:3,4).
Da mesma forma vemos Sara não confiar na promessa de Deus (Gênesis 12:7) e convencer Abraão a fazer esse filho (Gênesis 16:2), da mesma forma que Rebeca não confia na revelação de Deus acerca de seus filhos (Gênesis 25:23), e persuade Jacó e enganar seu pai (Gênesis 27:8-17).
Dos versículos 27 a 34 vemos Esaú ser descrito como “um caçador” (Gênesis 25:27) (como Ismael) (Gênesis 21:20) e Jacó ser somente um “homem simples habitando em tendas”.
Esta ideia de Deus escolher o menos apelativo segundo os padrões humanos, leva-nos a contemplar a Eleição de Deus a Israel como Nação de entre os povos: “O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos;” (Deuteronômio 7:7)
David foi semelhantemente escolhido por Deus de entre irmãos aparentemente mais robustos e fortes, para que fique evidente que Deus não escolhe como escolhem os homens (1 Samuel 16:7) (Mateus 22:16) (1 Coríntios 1:27,28) (Tiago 2:5).
Por isso Paulo cita em (Romanos 9:13) a passagem profética de Malaquias que diz: “Não era Esaú irmão de Jacó? disse O Senhor; todavia amei a Jacó,” (Malaquias 1:2)
Esaú demonstra o seu carácter, desprezando a sua primogenitura diante de uma refeição como se ela nada valesse (Gênesis 25:29-34).
Ainda que Jacó tenha recorrido a métodos de desonestidade aproveitando-se da fome do irmão para lhe tomar o direito de primogenitura (Gênesis 25:30-33), e enganando o Pai para lhe roubar a bênção (Gênesis 27:6-19), sua bênção estava determinada por aquilo que Deus é, e não por aquilo que Jacó se revelava ser.
Disto fala Paulo dizendo: “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.” (Romanos 9:16)
Por isso nesta mesma passagem e contexto, Paulo refere Jacó e Esaú fazendo uma exposição firme sobre o tema da Eleição particular não se baseando em qualquer factor humano, mas unicamente no beneplácito da Sua vontade soberana inquestionável (Romanos 9:10-16) (Efésios 1:11) (Isaías 65:9).
O acto de Esaú desprezar a sua primogenitura de forma tão casual, também nos revela que Esaú mereceu o desprezo de Deus; Ao desprezar aquele direito de honra por uma mera refeição, ele também desprezou as promessas de Deus e os costumes que lhes estavam associados.
Tocando no carácter de Esaú, o escritor de Hebreus diz: “E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou.” (Hebreus 12:16,17)
Leia-se: “E disse Esaú a seu pai: Tens uma só bênção, meu pai? Abençoa-me também a mim, meu pai. E levantou Esaú a sua voz, e chorou.” (Gênesis 27:38)
A bênção que ele reivindicava era para o primogénito, que não era mais ele.
Homens de bom carácter podem fazer coisas reprováveis (como Jacó nos dá exemplo), e homens de mau carácter, fazer boas coisas por contraste, mas Deus prova os corações acima dos comportamentos, e isso é inegável.
Há pessoas que são desagradáveis apesar das suas qualidades, e outras encantadoras apesar de seus defeitos; Há homens bons fazendo coisas más, e Homens maus fazendo coisas boas.
A razão talvez porque Jacó rouba a bênção enganando o seu pai, é porque ele tinha comprado o direito de primogenitura de seu irmão. Se a primogenitura tinha passado para ele, assim a bênção também. Na verdade quem estava a errar ali era Isaque dando a bênção ao filho errado.
Deus julga indo até ao íntimo lugar dos corações de modo a que nem sempre nos é fácil perceber como Deus faz as coisas em certos contextos bíblicos. Basta para isso crermos que Deus é um Deus justo com melhores padrões que nós.
Esaú desprezando e vendendo a sua primogenitura retrata a figura de um Líder sem visão.
Esaú é descrito como um “homem do campo” e “caçador” (Gênesis 25:27) com o intuito de descrever um homem robusto, que vivia habituado à adversidade, e por isso, se havia provavelmente tornado confiante na sua própria força, recursos e sobrevivência.
A ideia de ele trocar a primogenitura com uma refeição realça a ideia de que sua prioridade era viver o momento, de acordo com a sua satisfação; Não passa a ideia de um homem prudente, sábio e ponderado, com visão sobre o futuro.
Esaú acabaria por casar com 2 mulheres hetéias (Gênesis 26:34) tornando-se o pai dos edomitas (Gênesis 36:19), um povo inimigo de Israel (Joel 3:19) (Lamentações 4:22) (Salmos 137:7) (1 Reis 11:14); Ainda tomou outra mulher filha de Ismael, aliando-se a outro povo destinado à contenda, andando contrariamente ao caminho que devia andar (Gênesis 28:8,9).
Algumas coisas do carácter de Esaú são comuns até aos dias de hoje em pessoas que igualmente desprezam a Deus e as suas responsabilidades para com Ele:
Esaú vivia para o momento, sem se preocupar com o futuro;
Esaú vivia para satisfazer suas necessidades pessoais acima de qualquer outra coisa;
Esaú tinha ideias de valor invertidas, fazendo de coisas superficiais importantes, e de coisas importantes superficiais.
Esaú quando as coisas não correram como ele queria, em vez de recorrer a Deus, confiou em si mesmo e nos seus próprios planos.
Esaú tomava decisões em relação à sua vida e envolvia-se segundo os seus próprios desejos sem considerar a vontade de Deus.
Mas Esaú embora tivesse demonstrado mau carácter e leviandade durante um certo período na forma de viver e tomar decisões, a dada altura, mostra sinais de obter uma visão clara em relação à obra de Deus na vida de seu irmão (Gênesis 33:4,5), libertando-se do rancor de vingança que havia jurado (Gênesis 27:41) cumprindo com a determinação de seu pai a seu respeito (Gênesis 27:40) (Gênesis 33:9); Sua descendência porém acabaria odiando a Israel até seu povo ser extirpado da terra.
Quem dera que todos aqueles que vivem seus dias de forma displicente como Esaú, consigam obter a visão clara da obra de Deus a tempo, e se deixem abençoar, libertando-se do jugo de servidão ao pecado ao qual estão presos.
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