
CAPÍTULO 16 – (16 Versículos)
ABRÃO SARAI E AGAR -vs 1 a 9
ISMAEL O FILHO DA ESCRAVA -vs 10 a 16
-O capítulo 16 vem quebrar de novo a estabilidade da Fé de Abrão na narrativa como na sua breve passagem pelo Egipto (Gênesis 12:10); Uma fé não provada não é uma fé aprovada!
Isto acontece para identificar um novo momento no percurso deste Homem até aos dias actuais da Nação de Israel no cenário geo-político.
O entendimento deste capítulo nos dará uma melhor visão sobre o conflito entre o povo Judeu e o povo árabe.
Sabemos que Deus na abrangência da Sua Aliança com Abrão, vai revelando ao longo da narrativa variados detalhes que confirmam a Sua intenção para com ele; assim sendo Deus promete:
Uma Terra por possessão e herança: (Gênesis 12:1) (Gênesis 15:7)
Uma Nação abençoada engrandecendo o seu nome: (Gênesis 12:2)
Uma Descendência para herdar a Terra (Gênesis 12:7) (Gênesis 13:15) (Gênesis 15:18)
Uma Descendência tão numerosa que não se pode contar (Gênesis 13:16) (Gênesis 15:5)
Uma Vida de Protecção, Segurança e bênção (Gênesis 15:1)
Um Filho das suas entranhas (Gênesis 15:4)
Sarai mulher de Abrão entra em cena como protagonista da narrativa para se evidenciar o facto de que ela era estéril.
Nós já sabemos este detalhe desde (Gênesis 11:30), e o propósito era demonstrar a necessidade da Fé por parte de Abrão, para crer na promessa de Deus de lhe dar um Filho, tendo ele na altura 75 anos. As circunstâncias de adversidade, de ele estar já de idade avançada e sua mulher ser estéril, visam revelar na provação, que para Deus não há impossíveis (Lucas 1:36,37).
O PECADO DA IMPACIÊNCIA
O que se entende nos versículos 1 ao 4 é que Abrão não estava plenamente confiante e paciente na promessa feita por Deus de lhe dar um filho.
O que nós vemos aqui é novamente uma figura do pecado de Eva influenciando Adão, onde Sara agindo sobre sua própria fraqueza, incentiva Abrão a pecar.
Quando Abrão age de forma imprudente não tendo a Palavra do Senhor como sua direcção, ele não impede a Vontade de Deus de se concretizar, mas acaba desnecessariamente a trazer problemas para a sua vida, e a desgraça e o conflito para milénios da história da sua descendência.
Os “muçulmanos” (descendentes de Ismael) e os “Judeus” (descendentes de Isaac) até aos dias de hoje estão em conflito por causa da interveniência de Sarai, da mesma forma que todo o mundo está em inimizade contra Deus por causa de Eva.
Abrão vendo os anos passarem preferiu confiar na sugestão de Sarai, em vez de confiar na promessa de Deus. Provavelmente o que Abrão faz à semelhança de muitos “crentes” dos dias actuais, é atribuir a vontade da carne a uma possível vontade de Deus como se elas estivessem de acordo.
Assim obedecendo à carne mas pensando ser a vontade de Deus eles seguem na desobediência e na falta de confiança, trazendo os problemas para as suas vidas e a desonra que lhes é associada.
Então Sarai toma Agar uma serva egípcia e a dá a Abrão para lhe fazer um filho como era costume acontecer na antiguidade na eventualidade de uma mulher estéril não poder produzir herdeiros.
O relato diz que isto aconteceu “ao fim de dez anos que Abrão habitara na terra de Canaã” (Gênesis 16:3); Ismael o filho da desobediência nasce portanto aos 86 anos de idade de Abrão (Gênesis 16:16).
Esperar 10 anos pelo cumprimento de uma promessa deixaram Abrão em desespero, por isso Deus lhe faz esperar mais 13 anos depois do nascimento de Ismael até aos 100 anos de idade (Gênesis 21:5) para que Isaac o filho da Promessa lhe fosse entregue.
Por isso lemos: “ao tempo determinado, que Deus lhe tinha falado” (Gênesis 21:2), para que fique claro que para quem sabe esperar, tudo vem a seu tempo.
É Deus que determina o tempo da Bênção e não nós!
Espera No Senhor, anima-te, e Ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, No Senhor.
Bom é O Senhor para os que esperam por Ele, para a alma que O busca.
O Senhor se agrada dos que O temem e dos que esperam na Sua misericórdia.
A COMPETIÇÃO DE AGAR E O CIÚME DE SARA
A relação de Sarai e Agar evidenciada nos versículos 5 e 6 rapidamente se deteriora para evidenciar que no caminho da carne, o pecado gera conflito não só interior como exterior.
O conflito interior aponta para sentimentos de Vaidade, ciúme, inveja, desprezo e rivalidade; Isto é evidente no comportamento de Agar proporcionando o filho que sua senhora não podia: “vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos.” (Gênesis 16:4); E igualmente na atitude de divisão de Sarai para com ela e seu marido: “Meu agravo seja sobre ti; minha serva pus eu em teu regaço; vendo ela agora que concebeu, sou menosprezada aos seus olhos” (Gênesis 16:5).
O conflito exterior vem na sequência dos sentimentos gerados no emocionalismo da carne e manifestam-se em violência, mesquinhez, opressão e vingança;
O acto de afligir (VATËANEHÅ) Agar após a gravidez confirmada, aponta para Sarai ameaçar, humilhar, rebaixar como violência verbal ou fisica (Gênesis 16:6).
Na postura de Agar também está implícita a ideia de desafiar em arrogância no “desprezo” demonstrado a Sara baseado somente no facto de estar grávida do primogénito de Abrão.
Este clima de tensão e conflito interno e externo dura desde o nascimento de Ismael (Gênesis 16:15) até ao nascimento de Isaque no futuro (Gênesis 21:9,10) sendo um espinho no calcanhar de Abrão desde então.
O ANJO DO SENHOR E A PROMESSA A AGAR
Dos versículos 7 a 14 a narrativa foca em Agar após ser afligida por Sarai fugindo para o deserto no caminho de Sur, o que parece que ela sendo egípcia estava a retornar à sua terra (Sur ficava na fronteira com o Egipto).
A “fonte de água” onde Agar descansava representa um lugar de “bênção e esperança” e é lá que “O Anjo do Senhor” lhe aparece fisicamente.
Jesus é muitas vezes figurado numa “fonte de água e salvação” (Jeremias 17:13) (Isaías 12:3) (Apocalipse 21:6) (João 4:14)
Aqui à semelhança de Melquisedeque na passagem do capítulo 14, vemos uma “Cristofonia” (uma aparição do Cristo pré-encarnado) descrito como “o Anjo do SENHOR” (Gênesis 16:9);
O termo (MALËAKH YHVH) usado, refere-se à presença do Próprio Deus (YHVH); Não se trata de todo de "um anjo qualquer".
Como Cristo é a única forma de representação física de Deus aparecendo nas Escrituras, e aqui na passagem é evidente a sua real presença física diante de Agar (Gênesis 16:13) fica evidente que se trata do Próprio Senhor Jesus oculto, como noutras passagens do Antigo Testamento (Gênesis 14:18) (Gênesis 18:1,2) (Gênesis 32:24-30) (Juízes 6:11-22) (Daniel 3:23-25).
Aqui Agar recebe uma mensagem profética acerca do seu filho e sua descendência, quando nos versículos 10 a 12 O Senhor decide o seu nome “Ismael” (YSHËMÅEL) que quer dizer “Deus ouve”, como resposta à aflição dela (Gênesis 16:11), e prenuncia que dele também virá uma grande Nação (Gênesis 16:10) que terá um perfil temível e violento (Gênesis 16:12); Para que isto aconteça dá-lhe ordem para voltar e se humilhar diante da sua senhora (Gênesis 16:9). Ainda hoje basta ver a história entre o povo árabe e Judeu para se entender a profecia feita sobre o carácter de Ismael.
A sujeição de Agar a Sarai prefigura a inferioridade do povo árabe diante do povo Judeu em termos de legitimidade à bênção de Deus.
Ainda que Agar e Ismael sejam abençoados têm de saber o seu devido lugar (isto especialmente tendo em conta o direito de primogenitura)
A intervenção de Deus aqui é curiosa porque o abençoar Ismael para se tornar uma grande Nação, não é a mesma promessa de bênção feita a Abrão directamente.
O Filho da promessa e a Nação numerosa que fazem parte dessa Aliança dizem respeito a Isaque, e não a Ismael.
Porém Deus usaria a descendência de Ismael como forma de castigo, e de provação ao seu povo. A bênção e favor dada à descendência de Agar era castigo e provação dado à descendência de Abrão.
A figura de uma Nação eleita, (em Isaque) e uma Nação não eleita (em Ismael) em oposição, traz simbolismos espirituais acerca da Nova Aliança em Cristo, (a verdadeira descendência de Abrão) da qual João o Baptista referia aos fariseus, mas que eles não podiam entender (Mateus 3:9);
Esta herança e descendência pré-figurava uma promessa espiritual e não carnal;
Disto falou Paulo dizendo: “Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência.” (Romanos 9:7,8)
Esta figura espiritual está também bem descrita na sua carta aos Gálatas, quando a oposição e o tom de conflito entre a Nação de Israel e o povo árabe estão aqui evidenciados na rivalidade carnal entre Sarai e Agar, assim como em Ismael e Isaque:
Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.
O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos. Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.
Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido.
Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque. Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é também agora.
Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre. De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.
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