
CAPÍTULO 14 – (24 Versículos)
LÓ E A REALIDADE DESASTROSA DE SODOMA -vs 1 ao 16
MELQUISEDEQUE E ABRAÃO -vs 17 ao 24
-Logo no início do capítulo 14, já depois de Abrão e Ló se terem posicionado na região da terra prometida, entra o cenário de um conflito militar entre reis.
Este conflito até ao versículo 12 serve para mostrar as circunstâncias que envolveram Ló na cidade de Sodoma.
Ló é feito prisioneiro (Gênesis 14:12) pela confederação de reis vencedora e levado com eles.
O captiveiro de Ló nesta passagem é um simbolismo espiritual que resulta de uma má escolha no capítulo anterior. Ló escolhe Sodoma, um lugar mundano de terríveis pecados (Gênesis 14:12) somente baseado na aparência apelativa de riquezas que a terra prometia.
Em troca, mais tarde vivendo nesta região, fruto deste conflito que surge entre “Reis”, Ló é aprisionado pelo inimigo, até que Abrão surge em cena como o “Salvador” que o resgata de volta.
Se repararmos no simbolismo de alguns dos detalhes desta história podemos olhar para o futuro e ver que cada um de nós irá também colher o fruto das suas próprias escolhas.
Quando escolhemos confiar e depender em Deus somos abençoados e protegidos, contudo, quando buscarmos as riquezas aparentes do mundo, misturando-nos com uma sociedade perversa em pecado, rapidamente nos tornamos prisioneiros do inimigo que é satanás. Quando o mundo entrar em guerra uns contra os outros nós seremos consumidos com ele.
Somente Jesus o nosso “Salvador” nos pode resgatar dessa condição captiva debaixo do jugo da servidão.
O que é interessante ainda é perceber que deste conflito entre reis que se rebeleram contra o domínio dos outros, vemos 4 contra 5 (Gênesis 14:9);
O Número 4 simboliza o carácter de alguém por trás de uma obra, e o Número 5, a acção da Graça como o favor de Deus.
Os 4 Reis eram o poder dominante (Anrafel Rei de Sinar; Arioque Rei de Elasar; Quedorlaomer Rei de Elão; e Tidal Rei de Goim) (Gênesis 14:1)
Os 5 Reis eram os que se rebelaram (Bera Rei de Sodoma; Birsa Rei de Gomorra; Sinabe Rei de Admá; Semeber Rei de Zeboim; e ao Rei de Belá) (Gênesis 14:2)
"Quedorlaomer“ cujo nome traduzido do elamita pensa-se ser a junção de (Cudur + Lagamar) ou “Servo de Lagamar” refere-se a alguém que adorava a divindade suméria “Lagamar”;
Este, era a figura do Rei dominante naquela confederação de 4 e a narrativa revela que os 5 Reis serviram por 12 anos, e ao 13º ano se rebelaram (Gênesis 14:4); A passagem revela que aqueles que se rebelaram, não conseguiram vencer, desprendendo-se dos laços daquele que os governava, mas Abrão surge em cena e com um pequeno exército os derrota. (Gênesis 14:14,15)
O Simbolismo aqui presente aponta para o jugo do pecado, que o Homem em si mesmo não tem poder para se desprender.
O número 12 simboliza a acção perfeita de Deus para a eternidade, e usado nesta passagem aponta para os efeitos eternos da escravidão ao pecado que resulta na eternidade no inferno.
Ainda que as pessoas queiram fugir ao inferno, simbolizado no número 13, não podem escapar por si mesmos. Aqueles Homens tentaram se desprender do domínio de Quedorlaomer mas sem sucesso.
Abrão porém, como figura do Salvador (um arquétipo do Cristo por vir) pode derrotar o inimigo (Apocalipse 17:14) e libertar do cativeiro (João 8:36); Aqui a figura de Abrão revela O Senhor Jesus como a única forma de sair da condenação eterna e do captiveiro do pecado (João 3:18).
Ló a figura de alguém pagando o preço da sua má escolha, ensina a cada um de nós, que o mundo apelativo resultará em captiveiro e desgraça eventualmente.
O REI MELQUISEDEQUE
Por isso logo a seguir na narrativa, entra O Rei Melquisedeque em cena (Gênesis 14:18), apontando para O Senhor Jesus e o Seu reino eterno de Justiça e paz. Ainda é atribuído a este “Rei” o papel de “Sacerdote” do Deus Altíssimo (Gênesis 14:18).
Se Quedorlaomer era servo de uma Divindade Pagã, Melquisedeque era servo do Deus Altíssimo;
(O termo El Elyon usado é um dos nomes bíblicos para Deus que quer dizer também “Deus nas alturas” como O Deus acima de todos os deuses);
Este contraste é importante porque distingue Melquisedeque de Quedorlaomer, e o tipo de adoração que conduz à derrota ou à vitória (à honra, e desonra, nas figuras do céu e inferno).
É muito importante associar Rei e Sacerdote a Melquisedeque para entendermos quem realmente era este Rei e a postura curiosa de Abraão em relação a ele.
O Nome “Melquisedeque” é a junção no hebraico de 2 palavras (Melech + Tsedeq) que literalmente significa “Rei da Justiça” ou ainda também “Rei da Salvação”;
A bíblia diz que ele era Rei de “Salém” (Shalem) que significa “Paz perfeita”; Salém era a cidade primitiva que mais tarde seria chamada de “Jerusalém” que literalmente significa “Lugar de Paz”.
Melquisedeque aparece em cena no “Vale de Savé, que é o vale do rei” (Gênesis 14:17) que é ao lado da Jerusalém actual, e é também conhecido por “Vale de Jeosafá” ou “Vale do Cedrom”; Este vale divide o Monte do Templo do Monte das Oliveiras e continua pelo leste pelo deserto da Judéia até ao Mar morto.
O Vale de Jeosafá (Joel 3:12) traduzido do Hebraico (Emek Yehoshafat) quer dizer: “O vale do julgamento” ou “O vale onde Deus julgará”; Este é um lugar profético e altamente simbólico para o povo Judeu, e é muito conhecido por ser o lugar onde se dará o confronto de Gogue e Magogue (Ezequiel 38:1-23) (Ezequiel 39:1-11) no Juízo final (Apocalipse 20:8-10).
Fica cada vez mais óbvio perceber quem representa Melquisedeque na narrativa, e como é que Jesus é revelado aqui.
Jesus é O Eterno Rei dos Reis (Apocalipse 19:16); Aquele que julgará o mundo com justiça (Salmos 98:9) porque aprovou a Deus Pai dar-lhe todo o Juízo (João 5:22-27) (Atos 17:31);
Ele é também O nosso grande Sumo-Sacerdote (Hebreus 4:14) (Hebreus 9:11); Ele é O Rei da Justiça (Isaías 32:1) (Jeremias 23:5) e Rei da Paz que governará eternamente em Jerusalém (Isaías 65:18,19) (Lucas 19:38-42)
Por isso lemos na carta aos Hebreus o seguinte testemunho:
Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou;
A quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz;
Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre.
Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos.
Quando Melquisedeque é referido na carta aos Hebreus, 3 princípios são evidenciados que referem que este Rei não era somente um rei figurando a pessoa de Jesus, mas que Ele era O Próprio Senhor Jesus pré-encarnado, inserido na História misteriosamente para abençoar directamente Abrão e por ele todas as nações da Terra (Gênesis 14:19);
É descrito como alguém sem genealogia (Sem Pai nem mãe);
Não tendo princípio nem fim de vida (imortal);
Feito semelhante ao Filho de Deus (de natureza Divina);
Se contarmos os Reis descritos, vemos que Melquisedeque não está incluído entre os 4 reis que combatem contra outros 5.
Este aparece inserido na narrativa, mas como vindo de fora misteriosamente (Gênesis 14:17,18).
Quando vemos que O Rei Melquisedeque vem e serve Abrão com “Pão e Vinho”, é de estranhar um rei servindo alguém em vez de ser servido. (Gênesis 14:18)
Jesus é O único Rei que serve aos Seus servos (João 13:4-8), e o Pão e Vinho descritos, falam da Sua vida sendo entregue por resgate de muitos (Mateus 20:28)! (O pão o corpo, e o vinho Seu sangue);
Por isso falando de Cristo, também lemos em Salmos: “Jurou O Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque.” (Salmos 110:4)
Na carta aos Hebreus, 9 vezes é feita referência a Jesus como Melquisedeque (Hebreus 5:6) (Hebreus 5:10) (Hebreus 6:20) (Hebreus 7:1) (Hebreus 7:10) (Hebreus 7:11) (Hebreus 7:15) (Hebreus 7:17) (Hebreus 7:21)
O simbolismo do Número 9, fala do acto de: finalizar, consumar, cumprir ou de completar algo;
Jesus veio completar aquilo que Ele mesmo tinha começado nos tempos de Abraão; Por isso na Cruz à hora 9ª (Mateus 27:45-50) Ele diz as palavras: “Está consumado” (Tetelestai) (João 19:30); O termo grego usado descreve exactamente: o cumprimento final de um comando pendente; o fim de uma obra que alguém tinha iniciado previamente e estava em desenvolvimento; é o fechar do círculo; o fim de um empreendimento há muito posto em prática;
O Número 9 tem uma particularidade interessante de se associar aqui a Jesus como Melquisedeque; sendo o último dos números individuais, se for multiplicado por qualquer outro número individual, a adição dos números resultados, reverte sempre para o Número 9.
(2 x 9 = 18 / 1 + 8 = 9) - (3 x 9 = 27 / 2 + 7 = 9) - (4 x 9 = 36 / 3 + 6 = 9) e por aí fora.
Isto leva-nos a ver Jesus no centro de toda a História, e como tudo converge sempre de volta a Ele. Por isso nós vemos em inúmeras passagens do Antigo testamento a partir daqui, o aparecimento de figuras misteriosas à semelhança de Melquisedeque que se revelam ser O Próprio Senhor Jesus oculto, e pré-encarnado (isto é chamado de Cristofania);
O Antigo Testamento usa o termo “Anjo do Senhor“ de forma intercambiável com “O Senhor“ em referência a essas visitas; Cristo aparece fisicamente a Agar (Gênesis 16:7-10) a Abraão e Sara (Gênesis 18:1,2) a Jacó (Gênesis 32:24-30) a Gideão (Juízes 6:11-22) A Sadraque, Mezaque e Abednego (Daniel 3:23-25) deixando nas Escrituras o registo inegável de que desde o princípio que Jesus tem activamente participado da História humana ainda que não revelado totalmente.
As “Cristofanias” e os “Arquétipos” de Cristo estão presentes para que fique evidente que Ele é o centro da História e do plano eterno de Deus (Efésios 1:10).
O tributo de Abrão pago a Melquisedeque aponta para o nosso serviço e devoção ao Rei Jesus reconhecendo a Sua autoridade como Rei e a Sua legitimidade como Sacerdote eterno, ao qual devemos a honra.
A ideia de pagar tributo em forma de dízimo aqui nesta passagem é anterior ao sacerdócio Levítico o que reforça a ideia de um momento histórico de intervenção Divina para instituir um sacerdócio maior que a Lei que viria posteriormente.
Desta forma é inegável que o sacerdócio de Melquisedeque era superior ao sacerdócio dos descendentes de Levi, pois Abraão, de quem a tribo de Levi se originou, foi abençoado por este Rei e Sacerdote misterioso para esse mesmo fim.
Não só então é o sacerdócio de Cristo legítimo e superior ao dos Levitas, como precede e sucede a Lei como sinónimo de Graça Divina decretada desde o princípio.
O estatuto de Melquisedeque como autoridade superior é incontestável aqui, e se lermos as palavras de Paulo aos Romanos, entendemos bem que Abrão viu particularmente neste Rei uma autoridade ordenada por Deus:
Toda a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus.
Portanto é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência. Por esta razão também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo sempre a isto mesmo.
Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.
Se nós devemos honrar as autoridades terrenas, quando mais devemos honrar a autoridade Divina que reina sobre tudo e todos. Da mesma forma que Abrão reconheceu na figura misteriosa de Melquisedeque o sacerdócio eterno e a autoridade Divina do Rei que estava diante dele, assim nós também temos de reconhecer as mesmas características NO Senhor Jesus que a nós nos foi revelado.
A SEPARAÇÃO DO PECADO
No final do capítulo vemos no versículo 21 que o Rei de Sodoma agradecido por sua vitória contra os seus inimigos, reconhece os direitos de espólio de guerra a Abrão, para que ele tome dos bens restituídos, mas Abraão recusa-os de imediato (Gênesis 14:22,23).
Era costume, e de esperar que Abrão tomasse dos bens segundo os princípios de guerra culturais, em que o vencedor em casos de confronto militar, tomava do espólio conquistado.
Mas Abrão volta a provar na narrativa que Ele estava a servir a Deus com rigor e zelo, rejeitando qualquer mistura com o profano. Se uma vez ele tinha descido ao Egipto visando o seu próprio benefício, agora ele tinha aprendido a lição.
Era amplamente reconhecido que Sodoma era uma cidade profana e imoral, por isso seus tesouros e bens estavam igualmente contaminados, razão pela qual Abrão os rejeita.
A passagem de (1 Samuel 15:19-23) mais tarde, mostra uma postura completamente diferente de Saul o primeiro rei de Israel que não aprendeu com a Lição de Abrão, e perdeu o trono exactamente por aceitar o despojo de guerra contaminado com o pecado desobedecendo a Deus.
Quando Deus pede separação, Ele pede separação TOTAL!
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